quarta-feira, 18 de maio de 2011
Dona Elza, miha mãe, encantada & eterna
Minha última postagem neste blog ocorreu em 30 de janeiro, e sómente hoje retorno, passados cem dias após a notícia amarga que tive que divulgar no dia seguinte.um 31 de jaeiro que ficará indelével como um dos meus mais tristes dias.
Dona Elza, mãe querida, extremada, costureira de apurada técnica , cozinheira de saborosos e simples iguarias, cartomante de destinos sempre felizes, avó e bisavó de Liz, Juju, Camila, Cris, que continuam a sua aventura humana, encantou-se para sempre naquela triste tarde.
Restamo-nos, vencendo a ausência. Na nossa amizade, no nosso carinho, compartilhemos cada vez mais. Devota de São Judas Tadeu, com quem afirmava ter uma ótima interlocução com seus pedidos às esferas superiores, Dona Elza era de pouca missa e muita fé. Para lembrá-la, no entanto,nada melhor do que dedicar-lhe uma de minhas poesias mais queridas...
Ela não é uma
falha médica,
é o último ato da vida.
(Patch Adams,
no livro O Amor é contagioso,
sobre a morte)
SE EU MORRER
Pablo Neruda
Se eu morrer, sobrevive a mim com tamanha força
que acordarás as fúrias do pálido e do frio,
de sul a sul, ergue teus olhos indeléveis,
de sol a sol sonha através de tua boca cantante.
Não quero que tua risada ou teus passos hesitem.
Não quero que minha herança de alegria morra.
Não me chames. Estou ausente.
Vive em minha ausência como em uma casa.
A ausência é uma casa tão rápida
que dentro passarás pelas paredes
e pendurarás quadros no ar.
A ausência é uma casa tão transparente
que eu, morto, te verei, vivendo,
e se sofreres, meu amor, eu morrerei novamente.
Reuno a seguir algumas das inúmeras manifestações que recebí, e que me confortam até hoje...
Querido amigo: o sentimento que me ocorreu mais de imediato foi de que ela partiu num ótimo momento de sua vida, tão custosa, tão heróica. De seu último contato com ela, Eleusa relatou-me, entre surpresa e feliz, que d. Elza fizera elogios e manifestara gratidão pelos dias fque estava então vivendo, naquela morada. Que bom!
Paulo: você realmente se empenhou em entendê-la, acudí-la, usar seu humor para ver o lado engraçado de suas posições e, assim, fortalecer sua admiração por ela. Que ser marcante, que invulgar personagem de
romance para um Erico Versíssimo! Uma força da natureza, um ser digno de ser chamado humano, com todos os paradoxos que o caracterizam.Pode ter certeza: todos os seus amigos e todas as pessoas a quem ela acudiu e tocou receberam-na no outro nível, com alegria, e à frente estavam Nair e Alberto.
Muita força e muita paz. Descanse de uma missão bem cumprida. Abraços,Salomão e Eleusa.
Prezado Paulo e Silvio
Dona Elza Sarmento Cangussu foi uma pessoa admiravelmente forte, brava, persistente, resiliente perante todas as dificuldades. O dia que passou aqui em casa foi inesquecível. Comemos e conversamos ela se abriu, falou da criação, do Norte de Minas, das idéias que tinha. Guardarei dela uma boa recordação. E, por acaso, ela me influenciou ao pedir que seu rosto não ficasse exposto no velório. Por vaidade? Achei de grande sabedoria e decidi que, se um dia, porventura, eu vier a morrer, meu rosto não será exposto a ninguém, se é que alguém vai lembrar-se, será do meu rosto vivo. Nem quero flores, pois odeio que o cheiro perfumado de outros momentos alegres se confunda com a carniça da decomposição do nosso corpo, fenômeno natural e necessário, mas horrível de aceitar socialmente. Abraço, vamos tocando a vida e deixando que os afoitos furem a fila e sigam na frente. Abraço, Apolo Heringer
O Menino e sua Mãe ao Colo
Descansa no meu colo
tua cabeça de mulher.
Deixa que eu seja teu pai,
ainda que por m instante.
Vivamos o parto às avessas.
Eu, que sou teu filho,
por ora quero ser teu pai.
Só para ter o prazer de
te ver menina tão cheia de sonhos.
Só para puxar os teus cabelos
e nele colocar laços bordados de alegrias.
Cores de tempos antigos, distantes,
quando nem imaginavas
que um dia eu seria teu filho.
Fica quietinha por aqui.
Permita que eu cuide de tua coisas,
teu guarda-roupas tão cheio de dsordens,
não importa.
O remédio eu te darei,
teu alimento eu plantarei, e ajeitarei
o teu travesseiro de um jeito que gostes.
Só para descobrir a alegria
de reverter os poderes do tempo,
inverter a ordem dos fatos.
Só para ter a graça de te chamar de
minha filha,
minha menina,
minha Aninha(Elzinha).
Só para ter a graça de evitar teus
choros futuros,
tuas dores constantes,
teus medos tão delicados.
Medo de me perder,
de que eu morra antes da hora,
e de que não estejas por perto no
momento em que eu precisar de
tua mão, como no passado,
quando me conduzias contigo,
como se fossemos um só,
amarrado e costurado
no amor que sobrava do teu peito.
Amor que Deus esqueceu no mundo
e que eu vi de perto,
quando o sofrimento entrou pela janela
de tua casa,
e mesmo vendo partir as carnes do teu ventre,
o teu olhar me encorajava a não desanimar da vida.
E juntos, seguimos atados pela estrada,
que é feita de sonhos,
de tristezas e de risos.
Padre Fábio de Melo
Paulo,
Que Deus o abençoe! Um beijo,
Sula
domingo, 30 de janeiro de 2011
Nasce uma advogada: Beth Campos
Mil oitocentos e vinte e cinco dias que fizeram a diferença.
Depois do trabalho diário na PBH,
driblando o trânsito e suas conjunturas de perigo,
desafiando as estatísticas em vermelho em sua moto,
valente, resiliente, como se dançasse uma sevilhana,
o Brasil ganha uma advogada
que tem o ritmo da coragem:
Helyzabeth Kelen Tavares Campos.
TV O TEMPO:Quadrinista mineiro GUZ fala sobre a paixão pelos desenhos
Assistam ao locutor que vos fala, em recente (25.01.2011) entrevista à TV O TEMPO, no Dia Nacional dos Quadrinhos.Na verdade, sempre fui mais cartunista do que quadrinista. Mas foi com os quadrinhos que tudo começou: foi neles que descobrí o mundo fabuloso da criação e do humor!
quinta-feira, 13 de janeiro de 2011
Porque não conhecí a presidente Dilma nos anos de chumbo ou Anos de chumbo: Ex-companheiros de Dilma relembram tristes momentos na VAR Palmares ( O Gl
No período 1965-1966, tornei-me 1º Vice-presidente da UEE-MG, um importante centro de resistência estudantil contra a ditadura,onde conviví quase diáriamente com dois dos citados anteriormente pela presidente Dilma como "aqueles que tombaram" . Para aqueles que perceberam, Dilma Roussef emocionou-se nas duas vezes em que citou esta expressão, tanto na posse no Congresso Nacional como no discurso no Parlatório. Relembro também dos meus momentos vividos numa época em que se exigia dos jovens muito mais do que eles poderiam fazer...
Um dos principais desaparecidos pela repressão e tortura foi Beto, Carlos Alberto de Freitas,codinome Breno, teórico da POLOP (Política Operária), que evoluiria para o grupo de resistência armada COLINA (Comando de Libertação Nacional), posteriormente alterada para VAR-Palmares.
Apesar de se inclinar para a linha maoista, Beto envergava a maior parte do tempo um vasto bigode a la Stalin, mas gostava de deixar expressa a sua opinião desconfiada sobre os propósitos do PCB, o Partidão, cujos quadros eu bissextamente integrava, o que parecia aos meus olhos uma barreira interposta por ele para uma amizade mais próxima.Olhos verdes, simpático, sorridente, sedutor nos seus argumentos e articulações, eu via-o sempre cercado de devotadas seguidoras, entre as quais se destacava, para nosso desgosto do PCB, a companheira teuto-brasileira Helga,entre outras musas da minha juventude.
Mas de todas as belas, Maria Auxiliadora Lara Barcelos, a Dodora, estudante de medicina ( que não frequentava a UEE) era definitivamente quem impulsionava minhas pulsações.Com ela, eu tinha o privilégio de conviver todas as tardes no DER-MG (Departamento de Estradas de Rodagem), embora à distância, pois nunca nos falamos, como amanuenses-estudantes. Eu trabalhava na seção de Arquivo e Protocolo , localizada junto ao relógio de Ponto, e Dodora era irmã de Maria Helena, uma de minhas colegas, e por lá obrigatóriamente passava, após carimbar os cartões de cartolina. Alta, os olhos verdes contrastando com o escuro dos cabelos, um sorriso lindo e calmo, eu admirava-a sem saber que estava tão envolvida na Polop quanto os companheiros da UEE. Ângelo Pezzuti, seu colega de medicina, que sempre aparecia nas madrugadas de pixações, tornou-se o líder da facção armada no ano seguinte, também para minha surpresa, pois imaginava-o pouco engajado, numa militância muito bem disfarçada.
Não conhecí Dilma Roussef, que apenas em 1967 seria cooptada pelo grupo no Colégio Estadual. Nosso líder no PCB, o radicalíssimo Xuxu, Mário Roberto Zanconato, da mesma turma de medicina, propôs e optou por dissentir da linha oficial, integrando pela luta armada a CORRENTE,para a qual fui insistentemente convidado. Mas nessa época eu estava me interessando cada vez mais pelo desenho de humor, pelas charges que desenhava para o DX, nosso jornal acadêmico da Escola de Engenharia. À minha opção por esta arte singular devo o meu desengajamento progressivo, assim como a sobrevida até hoje, o que possívelmente terá também ajudado à sobrevivência de alguns companheiros de luta, pois a minha miopia ( e completa inabilidade manual ) era a última coisa que combinava com armas, pontarias e " expropriações" aventurosas.
No artigo de hoje, O Globo aborda o destino de Beto, cuja morte teria ocorrido na Casa da Morte, um centro de torturas em Petrópolis, onde as vítimas eram posteriormente esquartejadas (com ele foi preso e morto o advogado Antônio Joaquim Machado, o Quincas,de Pompéu/MG, cujo desaparecimento é práticamente ignorado pela mídia), e Dodora, que suicidou-se em 1976 no metrô de Berlim, aonde se asilara depois de presa no Rio ,e terrivelmente torturada, de onde foi libertada em troca do fim do sequestro do embaixador suiço.Ângelo Pezutti também foi libertado da mesma forma, falecendo num desastre de moto em Paris, em 1976. O médico Mário Roberto foi trocado na primeira leva de sequestros, o do embaixador Elbrick,clinicou 25 anos em Cuba, mas o socialismo de Fidel tem limites até mesmo para os que veneravam-no, transferindo-se finalmente para São Paulo ou Santos.
Outros nomes heróicos integram a lista de minha convivência,todos mortos sob tortura, como Honestino Guimarães, que conhecí calouro de geologia da UNB, em 1966, ex-presidente da UNE, assassinado em 1973;José Júlio de Araújo, o Jota, no DOI-CODI/São Paulo, em 1972,na época da UEE meu parceiro de pesquisas sobre a densidade feminina no Edificio Maletta; e José Carlos da Mata Machado, advogado, também assassinado no DOI-CODI, em 1973, quando tentava escapar do país que o perseguia, denunciado pelo próprio e ensandecido cunhado.E, à parte, Mário Alves,paraibano, jornalista e líder dissidente do PCB, fundador do PCBR, assassinado em 1970, no Rio, que nos visitava em casa, até 1967.
Anos de chumbo
Ex-companheiros de Dilma relembram tristes momentos na VAR Palmares
Publicada em 08/01/2011 às 18h23m
Chico Otavio
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RIO - Em fevereiro, fará 40 anos que Carlos Alberto Soares de Freitas, antes de descer do ônibus na esquina da Avenida Nossa Senhora de Copacabana com Princesa Isabel, no Rio, acenou pela última vez para Sérgio Emanuel Campos. Desde então, não foi mais visto. Sua mãe, Alice, até morrer, manteve intacto o quarto do filho, dizendo que ele ficara com a chave da porta e poderia reaparecer a qualquer momento. ( Assista a trecho de documentário que relata violência na ditadura )
Reinaldo Guarany também se lembra do derradeiro aceno de Maria Auxiliadora Lara Barcelos. Foi da portaria do prédio onde moravam, na então Berlim Ocidental, na primavera de 1976. Da rua, ela gritou para que o namorado fosse à janela do quartinho se despedir, coisa que jamais fizera antes no exílio. Pouco depois, a caminho da universidade, se jogou na frente de um trem do metrô da cidade. (Leia também: Governo Dilma quer aprovação da Comissão da Verdade para identificar torturadores )
Nos anos sangrentos da guerra suja no Brasil, Carlos Alberto, o Beto, e Maria Auxiliadora, a Dodora, eram a mais completa tradução do "endurecer sem perder a ternura". Belos e idealistas, encarnaram a figura do guerrilheiro romântico sob a insígnia da VAR Palmares. Apesar da diferença de idade (ele era de 1939 e ela, de 1945), tinham muitos pontos em comum. Um deles sobreviveu ao tempo: a capacidade de emocionar, com a história de suas vidas, a ex-companheira e hoje presidente da República, Dilma Rousseff.
E é Dilma quem agora, com a força do cargo, poderá virar a chave da tranca que guarda os segredos do martírio de Beto, Dodora e outros nos porões do regime. Quando assumiu a candidatura, em fevereiro passado, a então ministra lembrou de ambos, que se foram "na flor da idade", assim como Iara Yavelberg, ex-companheira do capitão Carlos Lamarca - "Beto, você ia adorar estar aqui conosco", "Dodora, você está aqui, no meu coração. Mas também aqui com cada um de nós", recordou-se, emocionada, em discurso na convenção do PT.
Seis dias antes da convenção, num momento mais ameno daquele fevereiro, Dilma esteve na Passarela do Samba, onde assistiu aos desfiles do Grupo Especial. A festa tem entre seus chefões o ex-capitão do Exército Ailton Guimarães Jorge, o Capitão Guimarães, citado em depoimento de Dodora à Justiça Militar como um dos autores das violências contra ela e dois outros companheiros.
Embora Maria Auxiliadora seja nome de unidade de saúde em São Paulo, e militantes da luta armada tenham batizado os filhos como Breno, homenagem ao codinome de Carlos Alberto na clandestinidade, os dois guerrilheiros, mineiros como Dilma, não fazem parte da lista dos adversários mais famosos do regime que tombaram nos confrontos, como Carlos Lamarca, Carlos Marighella e Mario Alves.
O professor universitário Sérgio Campos, último a ver Beto, decidiu investir metade da indenização de R$ 100 mil que recebeu do governo, como vítima do regime, no resgate da memória do "comandante Breno". Para isso, convidou a jornalista carioca Cristina Chacel para produzir um livro sobre o personagem, a ser lançado ainda este ano.
terça-feira, 28 de dezembro de 2010
Cabo Frio 2010: Bell & Eusébio, em 2009
Maria Teresa, ou Bell, e não me perguntem a etimologia dos apelidos, uma ciência à prova de qualquer lógica, e seu fiel guardião, Eusébio, foram por mim retratados há um ano atrás, num dia de sol e camarões , na casa querida de Ties & Linda,igualmente queridos, um casal que por sua vez tornou-se o maior sucesso das atividades de Bebeth como Cupida internacional em seus belgas anos.Reencontro-os agora,nesta mesma Cabo Frio de nome incompreensível para quem se recusa a enfrentar o calor da praia lá fora, entre um repasto que incluiu meio zoológico doméstico, como pato, coelho, bacalhau, lula (uma singela homenagem ao líder a ser substituido brevemente), e os onipresentes camarões cabofrienses, convidados necessários à boa vinda e boa vida de nós mineiros sequiosos de mares e areais, pelo menos nas suas consequências gastronômicas.Em dado instante, lembro-me sempre da pergunta arguta de um profissional desta arte singular: e a caricatura, que prometeram enviar-me uma cópia? A resposta está aí, resistente ainda um ano depois ao meu olhar e autocrítica.
sexta-feira, 17 de dezembro de 2010
Uma encomenda de Renatinha
O desenho acima foi elaborado na madrugada de segunda-feira passada. Para Renatinha, que é pós em Oceanografia Biológica, e a sua idéia generosa foi homenagear a professora que se aposenta, Marlise, especialista na espécie do PEIXE-REI. Lembrei-me da figura estampada no antigo Leite de fígado de bacalhau, que todas as mães pensavam fazer goela abaixo nas nossas infantas gargantas, um armagedon de gosto terrível.Mas a marca era bonita, com o pescador carregando um imenso bacalhau. O resultado carinhoso está expresso no comentário que se segue:
Ei Guz!!
então, gostaria de pedir desculpas pela sinuca de bico em que lhe coloquei: fazer uma caricatura em tão pouco tempo e para uma homenagem tão importante. Mas segue o resultado nas palavras da própria homenageada:
O quadro é genial, uma idéia muito criativa, que me fará lembrar sempre desta homenagem e do tempo no laboratório de Ictiologia.
Agradeço do fundo do coração esta homenagem
Obrigada por tudo!!
Feliz Natal e Feliz Ano Novo!!!!
Abração,
Renatinha.
quinta-feira, 16 de dezembro de 2010
Madoff: o monstro de Wall Street - Um olhar sobre a ambição elevada ao nível da loucura criminosa
O filho mais novo de Madoff, Andrew, suicidou-se ontem com uma corda, sem voltar a falar com o pai e a mãe, desde que o mesmo foi condenado a 150 anos de prisão.Hoje, juntamente com gangsters e outros condenados similares, Madoff pinta placas com abnegada aplicação, num presídio americano de segurança máxima.
Representante de uma classe que transforma o consumo em volúpia, independente da destruição que isso possa causar às suas vítimas, muito popular em Brasília e adjacências, como Edemar Cid Ferreira, ex-Banco Santos e o senador (?) Gim Argello, e tantos outros que formam uma multidão , esse personagem está a merecer um autor que descreva toda a sua tragédia pessoal.
Um Shakespeare redivivo...
Madoff: o monstro de Wall Street
Autor da maior fraude da história, Bernie Madoff Era um ótimo chefe e Os clientes podiam sempre contar com ele. Enquanto isso, sua operação predadora saqueava de maneira sistemática instituições de caridade, velhos amigos, parentes, celebridades e investidores em todo o mundo
Por Steve Fishman
Timothy A. Clary
Madoff deixa o tribunal, em Nova York, depois de uma audiência que estabeleceu o valor de sua fiança, no dia 14 de janeiro. Da prisão domiciliar foi transferido para o Centro Correcional Metropolitano de Manhattan.
Pouco mais de um ano antes da cândida confissão de ter forjado o maior golpe de esquema de pirâmide da história, Bernie Madoff compareceu ao casamento de sua sobrinha. Naquela noite de sábado, 29 de setembro de 2007, Shana Madoff, filha de Peter, irmão mais moço de Bernie e seu parceiro de quase quatro décadas no Bernard L. Madoff Investment Securities, casou-se com um ex-funcionário da SEC, a comissão de valores mobiliários dos Estados Unidos. Bernie não conseguiu se conter diante de tamanha ironia. Ele passou o braço atrás das costas de um jovem convidado e chamou a atenção do rapaz para a outra ponta da pista de dança, em direção a um grupo de homens bem-apessoados que sorviam seus drinques. “Olha lá”, disse Madoff, os olhos azul-claros irradiando um brilho em seu rosto bonachão. “É o inimigo.”
Havia 100 convidados no Hotel Bowery, alguns deles com as economias de uma vida inteira investidas com Bernie. As mesas foram postas com gosto, com direito a toalhas de linho e flores bonitas. A festa casava negócios e família – para o clã Madoff, os negócios eram a família. Bernie se gabava de tudo o que havia construído ao longo de 50 anos, e essas narrativas costumavam começar com as palavras “nós, da família Madoff”. Seus filhos, Andy, 42, e Mark, 44, comandavam a mesa de operações no 19º andar da empresa que ocupava vários pisos do edifício Lipstick, na esquina da Terceira Avenida com a rua 53. Andy e Mark ficavam dois andares acima de onde Madoff supostamente administrava bilhões de dólares de seus investidores. Peter Madoff, 62 anos, era CCO (Chief Compliance Officer, executivo responsável pelo controle do cumprimento de todas as regulamentações) e braço direito inseparável do irmão. A noiva, Shana, 38, era advogada, também responsável por observar o cumprimento das leis. A mulher de Bernie, Ruth, que já fora sua contadora, ainda tinha uma sala no prédio.
Na hora do brinde, Bernie foi para a varanda. Ele não é do tipo que gosta de fazer discursos. Tem um tique – uma piscadela típica de adolescente nervoso – e, às vezes, gaguejava. Lá fora, a noite estava limpa e gelada, indício da chegada do outono. Bernie se sentou e acendeu um Davidoff, seu charuto preferido. Trajava um smoking preto e usava um de seus relógios de colecionador, Patek Philippe ou Rolex. Estava no meio de um grupo de admiradores, figurões que prestavam homenagens àquele improvável titã de Wall Street. O discreto tio Bernie, como costumavam chamá-lo, era uma lenda. Nas décadas de 70 e 80, ele ajudara a revolucionar o funcionamento do mercado acionário. Ao longo do caminho, e aparentemente sem nenhum esforço, Madoff se transformara num administrador de fundos, chegando a ser um dos mais bem sucedidos do mundo – de acordo com os dados que figuravam nos relatórios detalhados que ele enviava regularmente a legiões de investidores. No papel, ele havia construído fortunas para alguns dos fãs que o rodeavam agora, e para boa parte da lista de convidados da festa. Bernie degustava os elogios. Ele adorava saber que os ricos dependiam dele, adorava a bajulação. “Isso o enobrecia”, diz um amigo. Por vezes, deixava escapar uma sugestão de desprezo pelas pessoas de quem cuidava, como se elas não lhe dessem o valor que merecia. Afinal, era ele quem pagava a mensalidade das escolas dos filhos e os títulos do country clube dos convidados elegantes, que agora bebiam a birita fornecida por ele – de maneira indireta, os drinques da festa também haviam sido financiados por Madoff.
Na varanda, uma fumaça azulada vagava pelo ar. Pensativo por um momento, Bernie disse a um convidado que não podia acreditar que estava num casamento no Hotel Bowery. Seus avós moraram no Lower East Side, bem pertinho de onde ele estava agora com seu smoking e seu relógio de milhares de dólares. Bernie vivera um período com os avós, e naquela noite ele se lembrava de como o bairro era pobre e decadente. Ele apontou para o Lower East Side. “Dei duro para sair de lá”, disse ele para outro convidado. “Ralei, lutei, trabalhei como uma mula.” A voz entregava uma ponta de raiva – ele sofrera para que os outros pudessem ter uma vida fácil.
Pouco mais de um ano depois, por volta das 4 horas da tarde de 11 de dezembro, J. Ezra Merkin estava em uma reunião no seu escritório de fundos hedge, no número 450 da Park Avenue, quando foi chamado para fora da sala para ver a edição digital do Wall Street Journal. A história de Bernie Madoff estava lá, logo nas manchetes. Para Merkin, foi como uma explosão de dinamite – ele perdeu o prumo. Era como se não escutasse mais nada. O Ascot, maior fundo de Merkin – responsável pela gestão dos investimentos de uma fatia considerável da elite judaica do Upper East Side, bem como pelos recursos de escolas de renome e instituições de caridade – estava todo investido com Madoff. Era mais ou menos US$ 1,8 bilhão. Os fundos de Merkin estavam entre as maiores fortunas que alimentavam Madoff, e eram os mais enraizados na cidade de Nova York. (O maior de todos era o Fairfield Greenwich, de Walter Noel; Noel tinha US$ 6,9 bilhões investidos com Madoff.) Em cartas enviadas por Merkin a seus investidores, ele disse que não restava outra alternativa senão liquidar os fundos. Ezra fecharia não apenas o Ascot mas também o Gabriel e o Ariel, seus dois outros grandes fundos com um terço de seus montantes investidos com Madoff. Em uma carta escrita no dia em que a fraude foi divulgada, Ezra disse aos investidores que também era vítima. “Tive perdas tremendas”, afirmou. E se despediu com a expressão “meus sinceros cumprimentos”.
02/04/2009
DESTINOS CRUZADOS
Na superfície, parecia pouco provável que houvesse algum elo entre os destinos de Bernard L. Madoff, 70 anos, e J. Ezra Merkin, 55. Madoff era um sujeito criado na periferia, briguento e batalhador. De acordo com um observador, ele ainda tinha “um cheirinho de quem veio do Queens”. Ele não estava interessado nas nuances do pensamento econômico, e quando a conversa esbarrava em política ele virava o rosto. Seu principal interesse sempre foram os dólares, as mundanidades do dinheiro. Ele não tinha a menor cara de guru de Wall Street, muito menos de monstro. Mal se fazia notar em meio a uma multidão – quem não o conhecesse poderia reparar apenas no sorriso pegajoso.
No universo do Upper East Side, todo mundo reparava era em J. Ezra Merkin, um intelectual exibicionista e um prodígio de erudição. Citava Hamlet, fazia longas explanações sobre as leis do judaísmo e sobre as diferentes fases do estilo de Mark Rothko – cujas pinturas colecionava. Ezra não apenas administrava dinheiro, a exemplo de Bernie. Era também um líder da comunidade judaica, engajado em instituições de caridade e grupos religiosos. Também presidia o GMAC, braço financeiro da General Motors. Numa comunidade que valoriza o intelecto, a compaixão, a generosidade e a riqueza, Merkin era um modelo de sucesso. “Solidário, religioso e profundo”, disse um companheiro da mesma congregação. “É um dos homens mais sábios de Wall Street”, afirmou um colega do mundo dos negócios.
Mas Merkin também era batalhador, ainda que as raízes de seus impulsos não fossem tão óbvias. Ele nasceu num meio privilegiado. Seu pai, Hermann Merkin, fizera fortuna em Wall Street e em outras paradas. O velho Merkin tinha uma fama reluzente de filantropo e líder da comunidade judaica. Era cofundador da sinagoga da Quinta Avenida e financiava uma galáxia de instituições de caridade ligadas à religião. A despeito de todas as benemerências, Hermann era um pai distante e contido. “Afora o fato de morarmos na mesma casa, ele era completamente ausente”, diz Sol Merkin, irmão mais novo de Ezra. Em casa, os pais do jovem Ezra exigiam que o dinheiro fosse usado com parcimônia. Por mais confortos que o lar oferecesse – eles tinham motorista, cozinheira e lavadeira –, Hermann insistia em não mimar os filhos. A família tinha uma espécie de bordão: dinheiro não faz bem. E Hermann e sua mulher agiam como se qualquer esbanjamento fosse fazer mal às crianças. Ezra dividia um quarto com dois irmãos, e os seis filhos tinham o hábito de esconder um pouco de comida para o caso de não haver suficiente para todos. A pressão sobre Ezra era maior. “Na condição de filho mais velho, ele era depositário de grandes expectativas e poucos incentivos”, diz a irmã Daphne, que escreveu um texto emocionado sobre a família.
A reação de Ezra ao pai distante foi seguir seus passos com diligência, numa competição desesperada que o levou a abraçar a filantropia, a religião e as finanças. E, até o momento em que Madoff revelou sua fraude, tudo indicava que Ezra havia superado Hermann. E o mais impressionante: ele havia feito uma fortuna maior ainda.
Sucede que Ezra também herdou do pai um legado problemático. O velho Merkin conhecia Bernie Madoff e admirava seu êxito. Ele não se importava com a falta de lustro de Bernie – para ele, o que interessava era justamente o aspecto primitivo. “Hermann era um imigrante durão, e não fazia tanta distinção entre as origens das pessoas”, diz uma pessoa que o conheceu. Na década de 90, quando Ezra procurava candidatos para administrar as quantias cada vez mais gigantescas de dinheiro que ele arrecadava, a bênção do pai deve ter ajudado a vender o peixe do lendário Bernie Madoff – e, no final das contas, seria ele o responsável pelo custeio de boa parte do estilo de vida do próprio Ezra. No auge do negócio de fundos hedge, em meados da década atual, é possível que Merkin tenha faturado US$ 35 milhões por ano apenas graças aos recursos que pingava no funil de Bernie Madoff.
A trajetória de Bernie Madoff tem início como a clássica história do judeu que vivia à margem e investiu contra os portões de Wall Street em busca de fortuna. De acordo com um de seus concorrentes, Bernie entrou no mundo das finanças por uma “porta remota, suja e repugnante”. Durante a juventude no Queens, ele costumava nadar, e estava sempre bronzeado e em forma. Em 1959, casou-se com Ruthie Alpern, sua namorada desde os tempos do ensino médio na Far Rockaway High School. Ela era loira, espevitada e fora eleita “Josie College”, uma honra que a colocava em destaque no livro de alunos da escola e a enquadrava no ninho das patricinhas bem-nascidas – muito antes das patricinhas ficarem famosas. Em 1960, quando se formou pela Universidade Hofstra, Bernie pediu uma sala emprestada ao sogro, que era contador, e fundou a Bernard L. Madoff Investment Securities. Diz a lenda que a empresa surgiu graças a US$ 5 mil que Bernie poupara trabalhando como salva-vidas e instalando dispositivos anti-incêndio.
Naquele tempo, a NYSE, a Bolsa de Valores de Nova York, dominava a mesa de negociações de Wall Street. Era um clube fechado, erguido para garantir benefícios aos próprios membros. Quem quisesse comprar ou vender uma ação tinha de passar pelo crivo de um especialista que ficava no pregão, e esse sujeito embolsava dinheiro a cada ação negociada. A rigor, tratava-se de um monopólio, uma das maneiras mais fáceis de faturar em Wall Street. E essa fraternidade não via com bons olhos tipos como Bernie. Foi assim que a Bernard L. Madoff Investment Securities entrou no negócio de balcão, como formadora de mercado (empresa que se propõe a garantir liquidez mínima para ações de companhias de capital aberto), negociando papéis de segundo ou terceiro time, de empresas menosprezadas pela bolsa – Bernie se referia a elas como empresas “verdes”. A concorrência era feroz, um cabo de guerra permanente entre gente “malandra, durona e persistente”, de acordo com um concorrente daqueles tempos.
Bernie logo criou fama por ser eficaz e meticuloso, e saiu-se bem, considerando que atuava em um setor específico. Carl Shapiro, que fez fortuna na indústria têxtil, recorda que há 50 anos era preciso esperar semanas para se desfazer de um pacote de ações. “Aí veio aquele garoto [Bernie], parou na minha frente e disse: ‘faço isso em três dias’. E fez mesmo”, declarou Shapiro ao jornal Daily News, de Palm Beach. Bernie, no entanto, tinha um alvo mais ambicioso: o monopólio da Bolsa de Valores de Nova York. “Naquela época, a coisa funcionava com uma dinâmica inacreditável”, conta um concorrente. “Era como se Bernie estivesse lutando contra o resto do mundo.” Todo mundo sabia que o sistema de especialistas extorquia os investidores e inflava artificialmente o spread entre preços de compra e venda. Madoff estava determinado a derrubar aquele sistema corrupto, missão que representava uma feliz coincidência com seus interesses financeiros. “Bernie era o rei da democratização”, diz Eric Weiner, jornalista que cobriu o início da trajetória do investidor. “Para ele, era uma tarefa messiânica.” Madoff lutou pela automatização do sistema, de forma que compradores e vendedores tivessem os nomes listados em um computador com acesso livre para todos. Venceu a batalha – a tecnologia já era inevitável naquela época – e logo partiu para a próxima. “Desenvolvemos um mecanismo de trading pelo computador”, explicou Bernie durante um congresso. “E foi assim que a Nasdaq começou.”
Na década de 80, a família Madoff já comandava uma imensa fatia do mercado, e Bernie começava a dominar as artimanhas do sucesso financeiro com o qual ele tanto sonhara: ternos impecáveis, relógios de colecionador e, posteriormente, casas em lugares distantes e um jatinho com suas iniciais pintadas na fuselagem. Mesmo assim, suas origens se faziam presentes. Ele era um garoto da periferia, mantinha-se fiel à sua identidade – e, com ela, aos rancores de classe. À medida que o sucesso crescia, ele sentia prazer em caçoar de quem o fizera comer poeira no passado – meninos que haviam estudado em boas universidades e agora eram seus empregados. Bernie relembrava: “Eles ficavam pensando durante muito tempo... Dava para assistir a eles pensarem... Eu, meu irmão e meus filhos olhávamos para eles e dizíamos: ‘Bom, e aí?’. E eles respondiam: ‘Já vai, estou quase lá’. Mas, àquela altura, os preços não estavam mais a nosso favor”.
Uma anedota conhecida dizia que Hermann Merkin não precisava de um telefone no escritório (porque não necessitava dos conselhos de ninguém). Imigrante alemão, ele ganhara dezenas de milhões de dólares investindo em ações, expedição, private equity. Mas tinha pretensões mais elevadas. Em 1958, quando Ezra estava com 5 anos, Hermann ajudou a fundar a sinagoga da Quinta Avenida, que viria a se transformar na que talvez seja a mais rica do país. A sinagoga, testemunha concreta das conquistas de Hermann, seria controlada por ele durante anos. E ele a comandava com mão de ferro – não tinha paciência para debates em comunidade. Hermann transformou o templo em um porto seguro para a moderna ortodoxia, e também num centro de estudos para a própria educação religiosa. Ele dava imenso valor à educação. Obrigado a abandonar a escola ainda na adolescência, era um intelectual frustrado. Em casa, costumava ter sempre uma cópia de algum texto judaico ao lado de um exemplar do Wall Street Journal. Até poucos dias antes de morrer, em 1999, aos 91 anos, ele ainda frequentava aulas sobre o Talmude na sinagoga que ajudara a criar.
Ezra seguiu os passos do pai em quase tudo – durante boa parte da vida, também frequentou aulas sobre o Talmude. Mas a imitação de Ezra era uma deferência que não surtia efeito em Hermann. “Ele não gostava daquilo”, diz uma pessoa próxima da família. Hermann não dava mostras de orgulho dos filhos. A exceção era o aspecto intelectual, que ele não apenas incentivava como também gostava de exibir. Hermann convidava primeiros-ministros israelenses, ricos executivos de Wall Street e políticos em ascensão para jantar em sua casa. As crianças se sentavam em uma extremidade da mesa e ouviam a conversa dos adultos, quase sempre dominada por Hermann. Mas uma vez por semana, durante o sabá, ele cedia espaço para o primogênito – seu prodígio da Torá. Vestindo uma gravata, Ezra dava início a uma exegese sobre o trecho da Torá do dia seguinte. Ele tinha um ar professoral, gostava de interpretar. Era uma das poucas coisas que o faziam garantir o reconhecimento incondicional do pai.
Depois de encerrar o ensino médio no colégio ortodoxo do Upper East Side, chamado Ramaz, Ezra frequentou dois yeshivás (escolas para o estudo da Torá e do Talmude) em Israel, antes de seguir para Columbia e finalmente estudar Direito em Harvard. Passou um breve período no Milbank, Tweed, um importante escritório de advocacia, mas no início dos anos 80 bandeou-se para a área de finanças, a seara de seu pai. Na época, trabalhar em Wall Street era um esporte glamouroso. Foi trabalhar num fundo hedge comandado por Alan Slifka, amigo de Hermann. Foi lá que ele conheceu Joel Greenblatt, que em 1985 fundou o Gotham Capital – onde Ezra trabalharia depois como um analista “dos bons”, segundo Greenblatt.
No entanto, desde o início estava claro que o talento especial de Ezra não incluía administrar fundos. “Ezra tem muita, muita dificuldade para tomar decisões”, diz um administrador que trabalhou com ele durante anos. Ele se preocupava com o cenário geral, ficava tenso com a distribuição do dinheiro por diferentes destinos. Esse administrador diz que seu dom era ser “um vendedor como poucos no mundo”. Ezra se colocava no lugar do investidor. “Ele entendia que muita gente não tem segurança [para decidir onde investir]”, diz o administrador. “E achava que, se as pessoas confiassem nele, ele poderia oferecer confiança para as pessoas.”
Tempos depois, alguns de seus sócios reclamariam que ele “falava sobre as coisas de uma maneira factual, mas não necessariamente com base nos fatos”, segundo um deles. “Por alguma razão ele inventa coisas, mas não essencialmente porque isso vai lhe trazer vantagens.” Talvez essa maquiagem garantisse uma apresentação mais convincente. E, para a maioria das pessoas, Ezra era convincente. Seu ativo mais poderoso, na condição de financista, era sua rede de contatos. Conhecia todos os integrantes da comunidade de judeus ricos do Upper East Side: filantropos, religiosos, círculos sociais, famílias e empresários. “Era uma shtetl” (aldeia, em iídiche), diz Merryl Tisch, ela mesma uma integrante da comunidade e membro da famosa família do setor imobiliário. O tom do comentário não é pejorativo. Ezra nasceu nesse meio e, depois que o pai morreu, tomou prontamente seu lugar. Em 2001 ele foi eleito presidente da sinagoga da Quinta Avenida, e no mesmo ano foi eleito para o conselho financeiro da universidade Yeshiva de Nova York, do qual seu pai fizera parte durante quatro décadas. Ezra também seguiu o pai ao dedicar-se incansavelmente a obras de caridade. De acordo com um integrante da federação UJA, tudo isso em troca de três cocas light por ano. Em geral, Ezra acabava indo para os comitês financeiros, posição na qual ele dizia que poderia ajudar as instituições que tanto prezava.
GANSO DE OURO
Em 1988, Ezra saiu do Gotham – em parte pela falta de interesse de Greenblatt em aumentar o tamanho do fundo, o que significava desperdiçar o maior talento de Ezra. Levou consigo vários investidores e abriu o Gabriel Capital. O modelo de Ezra, comum em Wall Street, fundamentava-se em recolher dinheiro e entregá-lo a administradores talentosos em troca de comissões. Mais tarde, investidores furiosos disseram que teriam sido induzidos a acreditar que o próprio Ezra administrava os recursos. Mas os colaboradores mais próximos sabiam que não era bem assim. Ezra conseguia o dinheiro – “ele era o ganso de ouro” do conto dos irmãos Grimm, diz um colega – e depositava sua confiança em outros administradores habilidosos. O que Ezra tinha era talento para identificar essas pessoas. Em 1992 ele já aplicava dinheiro com Stephen Feinberg – administrador cujo fundo, o Cerberus, viria a adquirir parte do controle da Chrysler e do GMAC. E Feinberg começara a investir com Bernie.
É impossível saber quando o golpe de Madoff teve início – ou se, em algum momento, chegou a haver uma justificativa inocente. Mas praticamente desde o princípio havia indícios de que algo estava errado. Bernie começara a administrar fundos em 1962, aos 24 anos, juntando dinheiro para seu projeto de trabalhar como formador de mercado. Frank Avellino surgiu na paisagem como um parceiro disposto a ajudar Madoff. Avellino era contador e trabalhava com o sogro de Bernie; falava um inglês semicompreensível, compensado por uma energia sem limites. Ele contratou outro contador, Michael Bienes, igualmente capaz de farejar um bom negócio. Logo os dois estavam fazendo uma oferta fenomenal (e premonitória): garantia de retorno entre 13,5% e 20%; caso contrário, eles cobririam a diferença. Alguns anos depois, o Dow Jones afundou quase 30%, e ficou praticamente impossível cumprir a promessa de Avellino e Bienes – a não ser que Bernie estivesse manipulando a contabilidade já naquela época, o que parece bem provável. Trinta anos mais tarde, a SEC finalmente tirou Avellino e Bienes de cena (descobriu-se que eles não registravam os investidores). Mesmo assim, os dois deixaram as contas de 3,2 mil investidores prontas para Bernie. Após anos de supostos lucros, essas contas valiam quase meio bilhão de dólares. A SEC determinou que US$ 454 milhões fossem devolvidos aos clientes. Bernie mostrou sua contabilidade para a SEC e manteve a afirmação de que poderia restituir qualquer quantia que lhe fosse exigida. Para alegria de Madoff, a maioria dos clientes pensava como Cynthia Crane, uma cantora de boate do West Village que decidira permanecer no jogo. Os recursos de Cynthia eram fruto de uma herança de família, e Bienes disse a ela: “Não se preocupe, pode deixar o dinheiro com Bernie Madoff”. E Cynthia ficou tranquila.
A ironia é que, quando a coisa chegou a esse ponto, Madoff não precisava mais do dinheiro. Seu negócio de formação de mercado, inteiramente legal e rigorosamente regulamentado, fazia chover dinheiro. Era ele quem executava até 15% de todos os negócios realizados na bolsa de valores. “Na década de 80, Bernie provavelmente faturava uns US$ 25 milhões por ano”, calcula Kenny Pasternak, um concorrente de longa data. “Acho que esse cara ganhou centenas de milhões de dólares ao longo da carreira.”
Bernie logo começou a gastar o dinheiro. Em 1994 ele comprou uma casa, atualmente avaliada em US$ 9,4 milhões, num endereço chique de Palm Beach. Na época, o lugar, que já fora sinônimo de paraíso para os herdeiros da tradição wasp americana (acrônimo para “branco, anglo-saxão e protestante”), estava tomado por gente como Bernie: empreendedores judeus, todos meio broncos, com sotaques que sugeriam ignorância e cujas famílias estavam na primeira geração de riqueza. “Bernie era um cara normal, bem do meu time, discreto, um homem bonzinho”, diz um investidor que faturou com o mercado imobiliário. Bernie virou sócio do country clube de Palm Beach, o clube dos judeus – graças ao pagamento de uma taxa de US$ 300 mil e à garantia dada ao conselho de que tinha uma sólida reputação como filantropo, uma das exigências para ser aceito. Ele não marcava muita presença no clube. “Quase sempre estava sozinho, ou com a mulher, ou com o irmão”, diz outro investidor. Sua fama como administrador chegou a Palm Beach antes dele, e seu comportamento distante aumentou a aura. “Todo mundo dizia: ‘Você tem de deixar seu dinheiro com Bernie’”, conta um investidor de primeira hora. “Todos repetiam essa frase no clube: ‘Estou com Bernie’.”
Muito embora ninguém saiba exatamente como Bernie ganhava dinheiro, ele era um sujeito comum demais e bonzinho demais para dar margem a um clima de mistério. Ele dizia que seus lucros também eram comuns. “Não ganho muito, mas ganho sempre”, foi o que afirmou certa vez a um investidor. Perguntado sobre os métodos que utilizava, ele falava de sua vasta experiência em Wall Street. “Trabalhamos com isso há 30 anos, merecemos crédito...” – essa era a ideia que ele transmitia. Mas Madoff jamais forçava a barra. Nunca houve uma venda difícil, nenhuma coação evidente. Ele entregava o que prometia – ou, pelo menos, assim se acreditava.
Se os investidores soubessem onde procurar, poderiam ter identificado algo assustador, o lado excêntrico de Bernie. Seu escritório fica no famoso Lipstick Building, um prédio de formato oval. Mas ele não tolerava curvas. “Era uma paranoia”, diz um funcionário. Em uma de suas salas, ele só bebia água em copos quadrados, guardava os lápis em porta-lápis quadrados e jogava o lixo numa lixeira quadrada. Insistia para que as persianas ficassem alinhadas com as esquadrias das janelas. “Usávamos até uma fita métrica”, conta o mesmo funcionário. E gostava que as telas dos computadores estivessem exatamente paralelas às mesas.
Madoff guardava suas confusões e monstruosidades bem escondidas. Sua operação era rigorosamente predadora, saqueava de maneira sistemática instituições de caridade, velhos amigos e parentes, bem como investidores espalhados pelo mundo inteiro. Ainda assim, parece improvável que ele fosse um sociopata no sentido clássico da palavra, de alguém que é indiferente aos sentimentos dos outros. No dia a dia, ele não era cruel ou impiedoso. Ao contrário. Valorizava as opiniões das pessoas e gostava de impressionar. Ele não tratava ninguém como um meio para que ele mesmo pudesse atingir seus objetivos. Era ótimo chefe. Cuidava dos funcionários como se fizessem parte da família – e, até o fim, fazia o mesmo com os clientes. “Todo mundo confiava no Bernie”, diz um antigo investidor. “Era a única pessoa com a qual achávamos que poderíamos contar sempre. E ele ficava feliz porque as pessoas contavam com ele.”
Mas é sabido que cuidar de alguém significa exercer poder sobre essa pessoa, e Bernie também gostava disso. Agora, era ele quem fazia um gesto com a mão para permitir que os outros entrassem no reino mágico onde o dinheiro nascia em árvores: Bernie, o menino do Queens. E Bernie não abria a porta para qualquer um. Era solidário e ao mesmo tempo magnânimo. Ele mesmo declarou a uma instituição de caridade: “Prometi à família Steinberg que tomaria conta do Congresso Judaico-Americano”. A entidade, causa preferida da família Steinberg, colocou US$ 11 milhões nas mãos de Bernie – mais da metade do total que recebia em doações.
Bernie adorava o Bernie Madoff no qual ele mesmo se transformara: uma lenda de Wall Street, protetor das instituições de caridade, um sujeito que era rico – mas era muito mais do que isso. E ele adorava esse Bernie Madoff mesmo que só pudesse sê-lo caindo na roubalheira.
Tempos depois as pessoas se perguntariam como Bernie foi capaz de arrastar tanta gente de quem ele aparentemente gostava para o fundo do poço. Mas, ao longo de décadas, ele não fez mal a ninguém. Ao contrário: ajudou muita gente. “Vivi às custas de Bernie durante anos”, diz um investidor. Ele fala por outros. É bem provável que Bernie não embolsasse tanto dinheiro. Ele sempre pagava no prazo e nunca deixava ninguém na mão. O dinheiro saía o tempo todo, em grandes quantidades. Era uma corrida constante para sacar. A Hadassah (organização de mulheres sionistas), por exemplo, investiu US$ 90 milhões – mas retirou US$ 130 milhões ao longo dos anos.
Havia quem achasse que Bernie e Ezra eram dois lados opostos da mesma moeda. Um tinha os pés no chão, o outro era indiscutivelmente etéreo; um se escondia à vista de todos, o outro era ostensivamente público. Eles precisavam um do outro. “Madoff cativou Ezra”, diz um conhecido de Merkin. Talvez isso tenha acontecido principalmente por causa da comparação que poderia ser feita com Hermann. “Cotejado ao meu pai, Bernie Madoff talvez parecesse um sujeito bom, acolhedor”, diz Daphne. Merkin não via Bernie exatamente como um colega. Para ele, era uma espécie de mecânico, um técnico que fazia o trabalho braçal e se concentrava no que havia debaixo do capô. Madoff costumava dizer: “A única coisa que me interessa é para onde vai o mercado nos próximos quinze minutos”. Um homem assim poderia se dedicar aos detalhes enquanto os Ezra Merkins da vida pensavam em coisas mais refinadas. Para Ezra, o retorno oferecido por Madoff não era de cair o queixo – outros se saíam melhor. Mesmo assim, sua média de mais de 12% ao ano era altamente respeitável. Mas o que realmente ajudava a vender o peixe de Bernie era a estabilidade: ao longo de mais de dez anos, ele praticamente não tivera um mês sequer de queda.
Ezra levou a Bernard L. Madoff Investment Securities para lugares onde Bernie nem sonhava em chegar sozinho. A lista de pessoas e instituições que Ezra Merkin colocou nas mãos de Bernie Madoff é uma espécie de coluna social da comunidade judaica. Dela constavam Mort Zuckerman, um gigante da mídia e do setor imobiliário, e Ira Rennert, presidente da sinagoga da Quinta Avenida e proprietário de um terreno de 68 acres nos Hamptons, com vista para o mar. Mais de 30 instituições de caridade investiam com Ezra, muitas ligadas à comunidade judaica. A Ramaz e a Yeshiva, duas renomadas instituições de ensino, estavam lá. Alguns investidores afirmam que não sabiam que o fundo Ascot, de Ezra, estava todo sob os auspícios de Madoff – asserção que será discutida em vários processos judiciais, no futuro. Ezra garante que o mínimo que fazia era informar às pessoas que poderia colocar os recursos nas mãos de outros administradores. E, em algumas situações, diz ter sido ainda mais direto. No caso da Yeshiva, que tinha talvez o maior valor em doações dentre todas as organizações sem fins lucrativos gerenciadas por ele, Ezra de fato deixou clara a relação com Bernie, muito embora haja indícios de que a relação relatada por ele não tenha sido exatamente a real.
Ezra era presidente do comitê de investimentos da Yeshiva mais ou menos desde 1994. Pouco depois que ele assumiu o cargo, o comitê colocou US$ 14,5 milhões de seu fundo de doações no Ascot, quantia que Ezra repassou a Madoff – não sem antes recolher a comissão de sempre: a princípio 1% e, mais tarde, 1,5%, padrão seguido por todos os administradores do dinheiro da Yeshiva. Na verdade, ainda que Merkin conferisse mensalmente os relatórios de Madoff e fizesse perguntas sobre as opções de investimento – e ainda que os relatórios fossem detalhados e abrangentes –, a operação (ou, conforme já se sabe, a falta dela) ficava a cargo de Madoff. Hoje há quem ponha em dúvida a ética de um presidente de comitê de investimentos que recebia comissão apenas para repassar o dinheiro a Bernie. Por que não dar o dinheiro diretamente para Bernie e ajudar a Yeshiva a economizar o que se gastava em comissões? Alguns acreditam que Ezra passava a mão nos lucros da instituição que ele tanto prezava.
Ezra faturava dezenas de milhões por ano com seus fundos. E, para ele – bem como para Bernie –, dinheiro não era apenas dinheiro. Era a escada que o alçaria ao universo de seu pai, um mundo celestial que agora ele habitava por direito. Ezra chegara lá, e tinha valido a pena. Em 1995, ele pagou US$ 11 milhões por um apartamento no endereço mais prestigiado de Nova York: o número 740 da Park Avenue, onde Jackie O. fora criada e John D. Rockefeller Jr. morara no passado. Ezra não tinha motorista e circulava de metrô, mas não hesitava em comprar um duplex de 18 cômodos que pertencera a Ron Perelman, membro de sua sinagoga. E, em 2003, ele deu início à sua coleção de Rothkos. Merkin reuniu uma dúzia de obras, algumas com 4,5 metros de altura. Trata-se da maior coleção particular de pinturas do artista no mundo, com valor estimado em US$ 150 milhões.
O pai provavelmente não teria aprovado a publicidade que o filho fez das obras. Mas Ezra já enterrara esse tipo de preocupação (a bem da verdade, ele também já enterrara o pai). Para Merkin, pendurar Rothkos na parede era um grandioso gesto de autodefinição, de ostentação espiritual, assim como Frick e Carnegie haviam feito antes dele. Os visitantes ficavam perplexos. Em todos os quartos, em todas as salas, há um Rothko pendurado em uma parede de cor escura. Merkin fazia questão de dizer que os quadros não eram um investimento; ele não esperava faturar mais com eles do que faturaria com um título do Tesouro americano. Um amigo afirma: “Acho que os Rothkos estavam intimamente ligados ao desejo que Ezra tinha de superar a culpa pelo próprio sucesso”.
RECUSOU US$ 1 BILHÃO
Na estrutura irretocável construída por Ezra para si mesmo, dinheiro era a mãe da beleza e do refinamento. O processo de ganhar o dinheiro propriamente dito era uma espécie de serviço de encanamento, uma necessidade levemente inconveniente sobre a qual não se entrava em detalhes. Gente como Madoff existia justamente para arregaçar as mangas e fazer o dinheiro entrar – e Ezra garantia seu quinhão sem nem mesmo lascar uma unha. As filigranas eram de importância menor; o que interessava era o fluxo constante. É verdade que Ezra tinha um ponto cego em relação à maneira como se ganhava esse dinheiro – o mesmo vale para muita gente que ficou rica na época da bolha, inclusive para clientes do próprio Merkin. Mas tudo funcionava como uma espécie de corrupção light, que tornava possível a corrupção pesada praticada por Bernie Madoff.
Até 2002, Madoff provavelmente poderia ter vendido a Bernard L. Madoff Investment Securities por até US$ 1 bilhão. Tanto o Goldman Sachs quanto a Charles Schwab demonstraram interesse pelo negócio de formação de mercado. Mas Bernie despachava os compradores. “Eu não poderia ter um chefe”, dizia ele. “Toda a minha família trabalha aqui.” Tempos depois, um dos concorrentes de Bernie refletiu sobre esse comentário. “De certa maneira, eu me identifiquei com o que ele disse”, afirma ele. “Por outro lado, não fazia sentido. Ele teve a oportunidade de receber um cheque de US$ 1 bilhão. Por que não vendeu?” Hoje, é claro, a resposta é óbvia. Madoff tinha ido longe demais para voltar atrás. Os negócios de formação de mercado e administração de recursos estavam expostos na contabilidade; eles compartilhavam dos mesmos fundos. E, depois de 2002, o setor de formação de mercado começou a entrar em declínio acentuado. Sendo assim, teve de ser subsidiado pelo dinheiro do negócio de administração de recursos – pelo menos era o que diziam os documentos legais. Não havia possibilidade de vender a empresa. Ninguém poderia ter acesso à contabilidade de Bernie.
Um dos aspectos mais estranhos da história de Madoff é o orgulho inabalável que ele tinha do próprio sucesso. Em maio de 2008, Bernie comemorou seu 70º aniversário em uma praia do Cabo San Lucas, no México, onde também participou de um torneio de golfe. O entourage de Bernie incluía seu irmão, Peter, as esposas dos dois e os amigos mais íntimos. Certa noite o grupo se reuniu num hotel tranquilo, e as mesas para os convidados estavam arrumadas na praia, com direito a jantar à luz de velas. Um por um, os convidados ficaram de pé e fizeram brindes em homenagem a Bernie. O discurso de Ed Blumenfeld foi o mais tradicional de todos. Segundo um convidado, Blumenfeld – que trabalhava no ramo imobiliário e era um grande investidor de Bernie – teria dito: “A amizade com Bernie enriqueceu nossas vidas. Foi um privilégio tê-lo conhecido e tê-lo ao nosso lado”.
Àquela altura, Bernie provavelmente já estava percebendo que o fim se aproximava. Mas, se estava mesmo angustiado, não deixava transparecer. Bernie jogou golfe, descansou, aproveitou o sol e a bajulação. Um convidado relembra que, na praia, Bernie cantou Sweet Caroline, de Neil Diamond. A letra dizia: “Onde tudo começou/não sei nem por onde começar”.
No dia 10 de dezembro, Andy e Mark, filhos de Bernie, conversaram com o pai sobre o pagamento dos bônus. De uma hora para outra, Bernie começou a insistir em pagá-los adiantado. Ele balbuciou um comentário sobre os lucros que a empresa vinha tendo. “É um bom momento para distribuir [os bônus]”, disse aos filhos. Não fazia sentido. Os dois pressionaram o pai. Bernie estava quase abrindo o jogo. Mais tarde, Andy e Mark diriam à SEC: “Ele não tinha certeza de que seria capaz de segurar as pontas”.
Bernie insistiu para que os três conversassem na casa dele, naquela mesma noite. Diante dos filhos, Bernie falou a verdade, sem rodeios. “Acabou”, disse ele. “É tudo mentira, uma mentira sem tamanho...” Andy e Mark ligaram para a SEC – a inimiga de Bernie, como ele mesmo costumava dizer. A SEC entrou em contato com o FBI, que foi até a casa de Bernie Madoff no dia 11 de dezembro. Bernie abriu a porta de robe azul-claro e com pantufas nos pés. Um dos agentes disse: “Estamos aqui para saber se existe uma justificativa inocente”. Bernie provavelmente ensaiou aquele momento durante anos. “Não existe nenhuma justificativa inocente”, disse ele. O tom de sua voz quase denotava um ar de alívio.
Ezra Merkin está no fundo do poço. “A vida que ele conhecia acabou, e nunca mais vai voltar”, diz o irmão Sol. Ele acrescenta: “Ezra não merecia isso”. Merkin está liquidando seus fundos, e foi exilado da maioria das comunidades de que tanto gostava. A investigação comandada por Andrew Cuomo, procurador-geral do estado de Nova York, quer saber se Ezra enganou deliberadamente as instituições filantrópicas cujos fundos administrava, com o objetivo de obter enriquecimento pessoal. Por insistência do governo americano, ele renunciou ao cargo de presidente do GMAC – condição estabelecida para que os US$ 5 bilhões do credor fossem cobertos. Até o momento, Ezra, judeu praticante, ainda se senta todos os sábados no banco reservado ao presidente da sinagoga. Alguns integrantes da congregação estão escandalizados, e é certo que vários têm a intenção de processá-lo. Processar Madoff não seria prático – ele não ficou com nenhum ativo. Sendo assim, essas pessoas pretendem acertar as contas com Ezra: na condição de sócio-geral, ele pode ser pessoalmente responsabilizado. Um advogado afirma: “Ele vai passar o resto da vida no tribunal”. A grande ironia é que o sábio vai alegar que não sabia do golpe até o último minuto.
Mas de certa forma o caso não acabou. Na verdade, está apenas começando. Ezra Merkin tem um fascínio – um “grande fascínio”, como costuma dizer aos amigos – por saber quais serão os próximos acontecimentos de sua vida. Quando fala das vítimas de Madoff – cujos recursos ele mesmo deveria ter salvaguardado – ele é categórico. Aos amigos, Merkin diz: “Perdi muito dinheiro, de muita gente”. A afirmação revela uma nota de obtusidade. Novos casos de instituições de caridade destruídas, de aposentadorias que foram pelo ralo, de casas postas à venda de uma hora para outra surgem diariamente. Será que o correto não seria que Ezra estivesse se autoflagelando? Mas ele afirma que foi tão logrado quanto os outros, e diz a si mesmo que precisa resistir, que não pode fraquejar. E assim ele conversa consigo mesmo sobre o que ele era: um homem que tinha uma esposa amorosa e quatro filhos que o adoravam – ele é um pai muito melhor do que Hermann foi. “Tenho de superar essa fase”, afirma ele aos amigos. Se é que isso será possível. Quanto ao futuro, ele não sabe qual será o desfecho da história. Recentemente, Ezra vem dizendo que é um ser humano livre da necessidade de dinheiro e prestígio – duas coisas que deram forma à sua vida. Ele é capaz de começar de novo, de se reinventar. Vai dar tudo certo, raciocina. Ezra sabe tão bem quanto todo mundo que seu sucesso financeiro foi de uma importância capital. O dinheiro era o cerne de sua vida. Garantiu todos aqueles Rothkos de tirar o fôlego que estavam pendurados nas paredes de sua casa; alçou-o às primeiras posições dos mais elevados rankings sociais. Agora tudo vai mudar. Ele já está pensando de um jeito diferente. Diz que talvez se dedique a algo mais contemplativo, como ler ou escrever. O que quer que aconteça, “não precisamos de um estilo de vida milionário para ser felizes”, afirma aos amigos. E acrescenta: “Pelo menos eu acho que não”.
(Tradução de Beatriz Velloso)
Representante de uma classe que transforma o consumo em volúpia, independente da destruição que isso possa causar às suas vítimas, muito popular em Brasília e adjacências, como Edemar Cid Ferreira, ex-Banco Santos e o senador (?) Gim Argello, e tantos outros que formam uma multidão , esse personagem está a merecer um autor que descreva toda a sua tragédia pessoal.
Um Shakespeare redivivo...
Madoff: o monstro de Wall Street
Autor da maior fraude da história, Bernie Madoff Era um ótimo chefe e Os clientes podiam sempre contar com ele. Enquanto isso, sua operação predadora saqueava de maneira sistemática instituições de caridade, velhos amigos, parentes, celebridades e investidores em todo o mundo
Por Steve Fishman
Timothy A. Clary
Madoff deixa o tribunal, em Nova York, depois de uma audiência que estabeleceu o valor de sua fiança, no dia 14 de janeiro. Da prisão domiciliar foi transferido para o Centro Correcional Metropolitano de Manhattan.
Pouco mais de um ano antes da cândida confissão de ter forjado o maior golpe de esquema de pirâmide da história, Bernie Madoff compareceu ao casamento de sua sobrinha. Naquela noite de sábado, 29 de setembro de 2007, Shana Madoff, filha de Peter, irmão mais moço de Bernie e seu parceiro de quase quatro décadas no Bernard L. Madoff Investment Securities, casou-se com um ex-funcionário da SEC, a comissão de valores mobiliários dos Estados Unidos. Bernie não conseguiu se conter diante de tamanha ironia. Ele passou o braço atrás das costas de um jovem convidado e chamou a atenção do rapaz para a outra ponta da pista de dança, em direção a um grupo de homens bem-apessoados que sorviam seus drinques. “Olha lá”, disse Madoff, os olhos azul-claros irradiando um brilho em seu rosto bonachão. “É o inimigo.”
Havia 100 convidados no Hotel Bowery, alguns deles com as economias de uma vida inteira investidas com Bernie. As mesas foram postas com gosto, com direito a toalhas de linho e flores bonitas. A festa casava negócios e família – para o clã Madoff, os negócios eram a família. Bernie se gabava de tudo o que havia construído ao longo de 50 anos, e essas narrativas costumavam começar com as palavras “nós, da família Madoff”. Seus filhos, Andy, 42, e Mark, 44, comandavam a mesa de operações no 19º andar da empresa que ocupava vários pisos do edifício Lipstick, na esquina da Terceira Avenida com a rua 53. Andy e Mark ficavam dois andares acima de onde Madoff supostamente administrava bilhões de dólares de seus investidores. Peter Madoff, 62 anos, era CCO (Chief Compliance Officer, executivo responsável pelo controle do cumprimento de todas as regulamentações) e braço direito inseparável do irmão. A noiva, Shana, 38, era advogada, também responsável por observar o cumprimento das leis. A mulher de Bernie, Ruth, que já fora sua contadora, ainda tinha uma sala no prédio.
Na hora do brinde, Bernie foi para a varanda. Ele não é do tipo que gosta de fazer discursos. Tem um tique – uma piscadela típica de adolescente nervoso – e, às vezes, gaguejava. Lá fora, a noite estava limpa e gelada, indício da chegada do outono. Bernie se sentou e acendeu um Davidoff, seu charuto preferido. Trajava um smoking preto e usava um de seus relógios de colecionador, Patek Philippe ou Rolex. Estava no meio de um grupo de admiradores, figurões que prestavam homenagens àquele improvável titã de Wall Street. O discreto tio Bernie, como costumavam chamá-lo, era uma lenda. Nas décadas de 70 e 80, ele ajudara a revolucionar o funcionamento do mercado acionário. Ao longo do caminho, e aparentemente sem nenhum esforço, Madoff se transformara num administrador de fundos, chegando a ser um dos mais bem sucedidos do mundo – de acordo com os dados que figuravam nos relatórios detalhados que ele enviava regularmente a legiões de investidores. No papel, ele havia construído fortunas para alguns dos fãs que o rodeavam agora, e para boa parte da lista de convidados da festa. Bernie degustava os elogios. Ele adorava saber que os ricos dependiam dele, adorava a bajulação. “Isso o enobrecia”, diz um amigo. Por vezes, deixava escapar uma sugestão de desprezo pelas pessoas de quem cuidava, como se elas não lhe dessem o valor que merecia. Afinal, era ele quem pagava a mensalidade das escolas dos filhos e os títulos do country clube dos convidados elegantes, que agora bebiam a birita fornecida por ele – de maneira indireta, os drinques da festa também haviam sido financiados por Madoff.
Na varanda, uma fumaça azulada vagava pelo ar. Pensativo por um momento, Bernie disse a um convidado que não podia acreditar que estava num casamento no Hotel Bowery. Seus avós moraram no Lower East Side, bem pertinho de onde ele estava agora com seu smoking e seu relógio de milhares de dólares. Bernie vivera um período com os avós, e naquela noite ele se lembrava de como o bairro era pobre e decadente. Ele apontou para o Lower East Side. “Dei duro para sair de lá”, disse ele para outro convidado. “Ralei, lutei, trabalhei como uma mula.” A voz entregava uma ponta de raiva – ele sofrera para que os outros pudessem ter uma vida fácil.
Pouco mais de um ano depois, por volta das 4 horas da tarde de 11 de dezembro, J. Ezra Merkin estava em uma reunião no seu escritório de fundos hedge, no número 450 da Park Avenue, quando foi chamado para fora da sala para ver a edição digital do Wall Street Journal. A história de Bernie Madoff estava lá, logo nas manchetes. Para Merkin, foi como uma explosão de dinamite – ele perdeu o prumo. Era como se não escutasse mais nada. O Ascot, maior fundo de Merkin – responsável pela gestão dos investimentos de uma fatia considerável da elite judaica do Upper East Side, bem como pelos recursos de escolas de renome e instituições de caridade – estava todo investido com Madoff. Era mais ou menos US$ 1,8 bilhão. Os fundos de Merkin estavam entre as maiores fortunas que alimentavam Madoff, e eram os mais enraizados na cidade de Nova York. (O maior de todos era o Fairfield Greenwich, de Walter Noel; Noel tinha US$ 6,9 bilhões investidos com Madoff.) Em cartas enviadas por Merkin a seus investidores, ele disse que não restava outra alternativa senão liquidar os fundos. Ezra fecharia não apenas o Ascot mas também o Gabriel e o Ariel, seus dois outros grandes fundos com um terço de seus montantes investidos com Madoff. Em uma carta escrita no dia em que a fraude foi divulgada, Ezra disse aos investidores que também era vítima. “Tive perdas tremendas”, afirmou. E se despediu com a expressão “meus sinceros cumprimentos”.
02/04/2009
DESTINOS CRUZADOS
Na superfície, parecia pouco provável que houvesse algum elo entre os destinos de Bernard L. Madoff, 70 anos, e J. Ezra Merkin, 55. Madoff era um sujeito criado na periferia, briguento e batalhador. De acordo com um observador, ele ainda tinha “um cheirinho de quem veio do Queens”. Ele não estava interessado nas nuances do pensamento econômico, e quando a conversa esbarrava em política ele virava o rosto. Seu principal interesse sempre foram os dólares, as mundanidades do dinheiro. Ele não tinha a menor cara de guru de Wall Street, muito menos de monstro. Mal se fazia notar em meio a uma multidão – quem não o conhecesse poderia reparar apenas no sorriso pegajoso.
No universo do Upper East Side, todo mundo reparava era em J. Ezra Merkin, um intelectual exibicionista e um prodígio de erudição. Citava Hamlet, fazia longas explanações sobre as leis do judaísmo e sobre as diferentes fases do estilo de Mark Rothko – cujas pinturas colecionava. Ezra não apenas administrava dinheiro, a exemplo de Bernie. Era também um líder da comunidade judaica, engajado em instituições de caridade e grupos religiosos. Também presidia o GMAC, braço financeiro da General Motors. Numa comunidade que valoriza o intelecto, a compaixão, a generosidade e a riqueza, Merkin era um modelo de sucesso. “Solidário, religioso e profundo”, disse um companheiro da mesma congregação. “É um dos homens mais sábios de Wall Street”, afirmou um colega do mundo dos negócios.
Mas Merkin também era batalhador, ainda que as raízes de seus impulsos não fossem tão óbvias. Ele nasceu num meio privilegiado. Seu pai, Hermann Merkin, fizera fortuna em Wall Street e em outras paradas. O velho Merkin tinha uma fama reluzente de filantropo e líder da comunidade judaica. Era cofundador da sinagoga da Quinta Avenida e financiava uma galáxia de instituições de caridade ligadas à religião. A despeito de todas as benemerências, Hermann era um pai distante e contido. “Afora o fato de morarmos na mesma casa, ele era completamente ausente”, diz Sol Merkin, irmão mais novo de Ezra. Em casa, os pais do jovem Ezra exigiam que o dinheiro fosse usado com parcimônia. Por mais confortos que o lar oferecesse – eles tinham motorista, cozinheira e lavadeira –, Hermann insistia em não mimar os filhos. A família tinha uma espécie de bordão: dinheiro não faz bem. E Hermann e sua mulher agiam como se qualquer esbanjamento fosse fazer mal às crianças. Ezra dividia um quarto com dois irmãos, e os seis filhos tinham o hábito de esconder um pouco de comida para o caso de não haver suficiente para todos. A pressão sobre Ezra era maior. “Na condição de filho mais velho, ele era depositário de grandes expectativas e poucos incentivos”, diz a irmã Daphne, que escreveu um texto emocionado sobre a família.
A reação de Ezra ao pai distante foi seguir seus passos com diligência, numa competição desesperada que o levou a abraçar a filantropia, a religião e as finanças. E, até o momento em que Madoff revelou sua fraude, tudo indicava que Ezra havia superado Hermann. E o mais impressionante: ele havia feito uma fortuna maior ainda.
Sucede que Ezra também herdou do pai um legado problemático. O velho Merkin conhecia Bernie Madoff e admirava seu êxito. Ele não se importava com a falta de lustro de Bernie – para ele, o que interessava era justamente o aspecto primitivo. “Hermann era um imigrante durão, e não fazia tanta distinção entre as origens das pessoas”, diz uma pessoa que o conheceu. Na década de 90, quando Ezra procurava candidatos para administrar as quantias cada vez mais gigantescas de dinheiro que ele arrecadava, a bênção do pai deve ter ajudado a vender o peixe do lendário Bernie Madoff – e, no final das contas, seria ele o responsável pelo custeio de boa parte do estilo de vida do próprio Ezra. No auge do negócio de fundos hedge, em meados da década atual, é possível que Merkin tenha faturado US$ 35 milhões por ano apenas graças aos recursos que pingava no funil de Bernie Madoff.
A trajetória de Bernie Madoff tem início como a clássica história do judeu que vivia à margem e investiu contra os portões de Wall Street em busca de fortuna. De acordo com um de seus concorrentes, Bernie entrou no mundo das finanças por uma “porta remota, suja e repugnante”. Durante a juventude no Queens, ele costumava nadar, e estava sempre bronzeado e em forma. Em 1959, casou-se com Ruthie Alpern, sua namorada desde os tempos do ensino médio na Far Rockaway High School. Ela era loira, espevitada e fora eleita “Josie College”, uma honra que a colocava em destaque no livro de alunos da escola e a enquadrava no ninho das patricinhas bem-nascidas – muito antes das patricinhas ficarem famosas. Em 1960, quando se formou pela Universidade Hofstra, Bernie pediu uma sala emprestada ao sogro, que era contador, e fundou a Bernard L. Madoff Investment Securities. Diz a lenda que a empresa surgiu graças a US$ 5 mil que Bernie poupara trabalhando como salva-vidas e instalando dispositivos anti-incêndio.
Naquele tempo, a NYSE, a Bolsa de Valores de Nova York, dominava a mesa de negociações de Wall Street. Era um clube fechado, erguido para garantir benefícios aos próprios membros. Quem quisesse comprar ou vender uma ação tinha de passar pelo crivo de um especialista que ficava no pregão, e esse sujeito embolsava dinheiro a cada ação negociada. A rigor, tratava-se de um monopólio, uma das maneiras mais fáceis de faturar em Wall Street. E essa fraternidade não via com bons olhos tipos como Bernie. Foi assim que a Bernard L. Madoff Investment Securities entrou no negócio de balcão, como formadora de mercado (empresa que se propõe a garantir liquidez mínima para ações de companhias de capital aberto), negociando papéis de segundo ou terceiro time, de empresas menosprezadas pela bolsa – Bernie se referia a elas como empresas “verdes”. A concorrência era feroz, um cabo de guerra permanente entre gente “malandra, durona e persistente”, de acordo com um concorrente daqueles tempos.
Bernie logo criou fama por ser eficaz e meticuloso, e saiu-se bem, considerando que atuava em um setor específico. Carl Shapiro, que fez fortuna na indústria têxtil, recorda que há 50 anos era preciso esperar semanas para se desfazer de um pacote de ações. “Aí veio aquele garoto [Bernie], parou na minha frente e disse: ‘faço isso em três dias’. E fez mesmo”, declarou Shapiro ao jornal Daily News, de Palm Beach. Bernie, no entanto, tinha um alvo mais ambicioso: o monopólio da Bolsa de Valores de Nova York. “Naquela época, a coisa funcionava com uma dinâmica inacreditável”, conta um concorrente. “Era como se Bernie estivesse lutando contra o resto do mundo.” Todo mundo sabia que o sistema de especialistas extorquia os investidores e inflava artificialmente o spread entre preços de compra e venda. Madoff estava determinado a derrubar aquele sistema corrupto, missão que representava uma feliz coincidência com seus interesses financeiros. “Bernie era o rei da democratização”, diz Eric Weiner, jornalista que cobriu o início da trajetória do investidor. “Para ele, era uma tarefa messiânica.” Madoff lutou pela automatização do sistema, de forma que compradores e vendedores tivessem os nomes listados em um computador com acesso livre para todos. Venceu a batalha – a tecnologia já era inevitável naquela época – e logo partiu para a próxima. “Desenvolvemos um mecanismo de trading pelo computador”, explicou Bernie durante um congresso. “E foi assim que a Nasdaq começou.”
Na década de 80, a família Madoff já comandava uma imensa fatia do mercado, e Bernie começava a dominar as artimanhas do sucesso financeiro com o qual ele tanto sonhara: ternos impecáveis, relógios de colecionador e, posteriormente, casas em lugares distantes e um jatinho com suas iniciais pintadas na fuselagem. Mesmo assim, suas origens se faziam presentes. Ele era um garoto da periferia, mantinha-se fiel à sua identidade – e, com ela, aos rancores de classe. À medida que o sucesso crescia, ele sentia prazer em caçoar de quem o fizera comer poeira no passado – meninos que haviam estudado em boas universidades e agora eram seus empregados. Bernie relembrava: “Eles ficavam pensando durante muito tempo... Dava para assistir a eles pensarem... Eu, meu irmão e meus filhos olhávamos para eles e dizíamos: ‘Bom, e aí?’. E eles respondiam: ‘Já vai, estou quase lá’. Mas, àquela altura, os preços não estavam mais a nosso favor”.
Uma anedota conhecida dizia que Hermann Merkin não precisava de um telefone no escritório (porque não necessitava dos conselhos de ninguém). Imigrante alemão, ele ganhara dezenas de milhões de dólares investindo em ações, expedição, private equity. Mas tinha pretensões mais elevadas. Em 1958, quando Ezra estava com 5 anos, Hermann ajudou a fundar a sinagoga da Quinta Avenida, que viria a se transformar na que talvez seja a mais rica do país. A sinagoga, testemunha concreta das conquistas de Hermann, seria controlada por ele durante anos. E ele a comandava com mão de ferro – não tinha paciência para debates em comunidade. Hermann transformou o templo em um porto seguro para a moderna ortodoxia, e também num centro de estudos para a própria educação religiosa. Ele dava imenso valor à educação. Obrigado a abandonar a escola ainda na adolescência, era um intelectual frustrado. Em casa, costumava ter sempre uma cópia de algum texto judaico ao lado de um exemplar do Wall Street Journal. Até poucos dias antes de morrer, em 1999, aos 91 anos, ele ainda frequentava aulas sobre o Talmude na sinagoga que ajudara a criar.
Ezra seguiu os passos do pai em quase tudo – durante boa parte da vida, também frequentou aulas sobre o Talmude. Mas a imitação de Ezra era uma deferência que não surtia efeito em Hermann. “Ele não gostava daquilo”, diz uma pessoa próxima da família. Hermann não dava mostras de orgulho dos filhos. A exceção era o aspecto intelectual, que ele não apenas incentivava como também gostava de exibir. Hermann convidava primeiros-ministros israelenses, ricos executivos de Wall Street e políticos em ascensão para jantar em sua casa. As crianças se sentavam em uma extremidade da mesa e ouviam a conversa dos adultos, quase sempre dominada por Hermann. Mas uma vez por semana, durante o sabá, ele cedia espaço para o primogênito – seu prodígio da Torá. Vestindo uma gravata, Ezra dava início a uma exegese sobre o trecho da Torá do dia seguinte. Ele tinha um ar professoral, gostava de interpretar. Era uma das poucas coisas que o faziam garantir o reconhecimento incondicional do pai.
Depois de encerrar o ensino médio no colégio ortodoxo do Upper East Side, chamado Ramaz, Ezra frequentou dois yeshivás (escolas para o estudo da Torá e do Talmude) em Israel, antes de seguir para Columbia e finalmente estudar Direito em Harvard. Passou um breve período no Milbank, Tweed, um importante escritório de advocacia, mas no início dos anos 80 bandeou-se para a área de finanças, a seara de seu pai. Na época, trabalhar em Wall Street era um esporte glamouroso. Foi trabalhar num fundo hedge comandado por Alan Slifka, amigo de Hermann. Foi lá que ele conheceu Joel Greenblatt, que em 1985 fundou o Gotham Capital – onde Ezra trabalharia depois como um analista “dos bons”, segundo Greenblatt.
No entanto, desde o início estava claro que o talento especial de Ezra não incluía administrar fundos. “Ezra tem muita, muita dificuldade para tomar decisões”, diz um administrador que trabalhou com ele durante anos. Ele se preocupava com o cenário geral, ficava tenso com a distribuição do dinheiro por diferentes destinos. Esse administrador diz que seu dom era ser “um vendedor como poucos no mundo”. Ezra se colocava no lugar do investidor. “Ele entendia que muita gente não tem segurança [para decidir onde investir]”, diz o administrador. “E achava que, se as pessoas confiassem nele, ele poderia oferecer confiança para as pessoas.”
Tempos depois, alguns de seus sócios reclamariam que ele “falava sobre as coisas de uma maneira factual, mas não necessariamente com base nos fatos”, segundo um deles. “Por alguma razão ele inventa coisas, mas não essencialmente porque isso vai lhe trazer vantagens.” Talvez essa maquiagem garantisse uma apresentação mais convincente. E, para a maioria das pessoas, Ezra era convincente. Seu ativo mais poderoso, na condição de financista, era sua rede de contatos. Conhecia todos os integrantes da comunidade de judeus ricos do Upper East Side: filantropos, religiosos, círculos sociais, famílias e empresários. “Era uma shtetl” (aldeia, em iídiche), diz Merryl Tisch, ela mesma uma integrante da comunidade e membro da famosa família do setor imobiliário. O tom do comentário não é pejorativo. Ezra nasceu nesse meio e, depois que o pai morreu, tomou prontamente seu lugar. Em 2001 ele foi eleito presidente da sinagoga da Quinta Avenida, e no mesmo ano foi eleito para o conselho financeiro da universidade Yeshiva de Nova York, do qual seu pai fizera parte durante quatro décadas. Ezra também seguiu o pai ao dedicar-se incansavelmente a obras de caridade. De acordo com um integrante da federação UJA, tudo isso em troca de três cocas light por ano. Em geral, Ezra acabava indo para os comitês financeiros, posição na qual ele dizia que poderia ajudar as instituições que tanto prezava.
GANSO DE OURO
Em 1988, Ezra saiu do Gotham – em parte pela falta de interesse de Greenblatt em aumentar o tamanho do fundo, o que significava desperdiçar o maior talento de Ezra. Levou consigo vários investidores e abriu o Gabriel Capital. O modelo de Ezra, comum em Wall Street, fundamentava-se em recolher dinheiro e entregá-lo a administradores talentosos em troca de comissões. Mais tarde, investidores furiosos disseram que teriam sido induzidos a acreditar que o próprio Ezra administrava os recursos. Mas os colaboradores mais próximos sabiam que não era bem assim. Ezra conseguia o dinheiro – “ele era o ganso de ouro” do conto dos irmãos Grimm, diz um colega – e depositava sua confiança em outros administradores habilidosos. O que Ezra tinha era talento para identificar essas pessoas. Em 1992 ele já aplicava dinheiro com Stephen Feinberg – administrador cujo fundo, o Cerberus, viria a adquirir parte do controle da Chrysler e do GMAC. E Feinberg começara a investir com Bernie.
É impossível saber quando o golpe de Madoff teve início – ou se, em algum momento, chegou a haver uma justificativa inocente. Mas praticamente desde o princípio havia indícios de que algo estava errado. Bernie começara a administrar fundos em 1962, aos 24 anos, juntando dinheiro para seu projeto de trabalhar como formador de mercado. Frank Avellino surgiu na paisagem como um parceiro disposto a ajudar Madoff. Avellino era contador e trabalhava com o sogro de Bernie; falava um inglês semicompreensível, compensado por uma energia sem limites. Ele contratou outro contador, Michael Bienes, igualmente capaz de farejar um bom negócio. Logo os dois estavam fazendo uma oferta fenomenal (e premonitória): garantia de retorno entre 13,5% e 20%; caso contrário, eles cobririam a diferença. Alguns anos depois, o Dow Jones afundou quase 30%, e ficou praticamente impossível cumprir a promessa de Avellino e Bienes – a não ser que Bernie estivesse manipulando a contabilidade já naquela época, o que parece bem provável. Trinta anos mais tarde, a SEC finalmente tirou Avellino e Bienes de cena (descobriu-se que eles não registravam os investidores). Mesmo assim, os dois deixaram as contas de 3,2 mil investidores prontas para Bernie. Após anos de supostos lucros, essas contas valiam quase meio bilhão de dólares. A SEC determinou que US$ 454 milhões fossem devolvidos aos clientes. Bernie mostrou sua contabilidade para a SEC e manteve a afirmação de que poderia restituir qualquer quantia que lhe fosse exigida. Para alegria de Madoff, a maioria dos clientes pensava como Cynthia Crane, uma cantora de boate do West Village que decidira permanecer no jogo. Os recursos de Cynthia eram fruto de uma herança de família, e Bienes disse a ela: “Não se preocupe, pode deixar o dinheiro com Bernie Madoff”. E Cynthia ficou tranquila.
A ironia é que, quando a coisa chegou a esse ponto, Madoff não precisava mais do dinheiro. Seu negócio de formação de mercado, inteiramente legal e rigorosamente regulamentado, fazia chover dinheiro. Era ele quem executava até 15% de todos os negócios realizados na bolsa de valores. “Na década de 80, Bernie provavelmente faturava uns US$ 25 milhões por ano”, calcula Kenny Pasternak, um concorrente de longa data. “Acho que esse cara ganhou centenas de milhões de dólares ao longo da carreira.”
Bernie logo começou a gastar o dinheiro. Em 1994 ele comprou uma casa, atualmente avaliada em US$ 9,4 milhões, num endereço chique de Palm Beach. Na época, o lugar, que já fora sinônimo de paraíso para os herdeiros da tradição wasp americana (acrônimo para “branco, anglo-saxão e protestante”), estava tomado por gente como Bernie: empreendedores judeus, todos meio broncos, com sotaques que sugeriam ignorância e cujas famílias estavam na primeira geração de riqueza. “Bernie era um cara normal, bem do meu time, discreto, um homem bonzinho”, diz um investidor que faturou com o mercado imobiliário. Bernie virou sócio do country clube de Palm Beach, o clube dos judeus – graças ao pagamento de uma taxa de US$ 300 mil e à garantia dada ao conselho de que tinha uma sólida reputação como filantropo, uma das exigências para ser aceito. Ele não marcava muita presença no clube. “Quase sempre estava sozinho, ou com a mulher, ou com o irmão”, diz outro investidor. Sua fama como administrador chegou a Palm Beach antes dele, e seu comportamento distante aumentou a aura. “Todo mundo dizia: ‘Você tem de deixar seu dinheiro com Bernie’”, conta um investidor de primeira hora. “Todos repetiam essa frase no clube: ‘Estou com Bernie’.”
Muito embora ninguém saiba exatamente como Bernie ganhava dinheiro, ele era um sujeito comum demais e bonzinho demais para dar margem a um clima de mistério. Ele dizia que seus lucros também eram comuns. “Não ganho muito, mas ganho sempre”, foi o que afirmou certa vez a um investidor. Perguntado sobre os métodos que utilizava, ele falava de sua vasta experiência em Wall Street. “Trabalhamos com isso há 30 anos, merecemos crédito...” – essa era a ideia que ele transmitia. Mas Madoff jamais forçava a barra. Nunca houve uma venda difícil, nenhuma coação evidente. Ele entregava o que prometia – ou, pelo menos, assim se acreditava.
Se os investidores soubessem onde procurar, poderiam ter identificado algo assustador, o lado excêntrico de Bernie. Seu escritório fica no famoso Lipstick Building, um prédio de formato oval. Mas ele não tolerava curvas. “Era uma paranoia”, diz um funcionário. Em uma de suas salas, ele só bebia água em copos quadrados, guardava os lápis em porta-lápis quadrados e jogava o lixo numa lixeira quadrada. Insistia para que as persianas ficassem alinhadas com as esquadrias das janelas. “Usávamos até uma fita métrica”, conta o mesmo funcionário. E gostava que as telas dos computadores estivessem exatamente paralelas às mesas.
Madoff guardava suas confusões e monstruosidades bem escondidas. Sua operação era rigorosamente predadora, saqueava de maneira sistemática instituições de caridade, velhos amigos e parentes, bem como investidores espalhados pelo mundo inteiro. Ainda assim, parece improvável que ele fosse um sociopata no sentido clássico da palavra, de alguém que é indiferente aos sentimentos dos outros. No dia a dia, ele não era cruel ou impiedoso. Ao contrário. Valorizava as opiniões das pessoas e gostava de impressionar. Ele não tratava ninguém como um meio para que ele mesmo pudesse atingir seus objetivos. Era ótimo chefe. Cuidava dos funcionários como se fizessem parte da família – e, até o fim, fazia o mesmo com os clientes. “Todo mundo confiava no Bernie”, diz um antigo investidor. “Era a única pessoa com a qual achávamos que poderíamos contar sempre. E ele ficava feliz porque as pessoas contavam com ele.”
Mas é sabido que cuidar de alguém significa exercer poder sobre essa pessoa, e Bernie também gostava disso. Agora, era ele quem fazia um gesto com a mão para permitir que os outros entrassem no reino mágico onde o dinheiro nascia em árvores: Bernie, o menino do Queens. E Bernie não abria a porta para qualquer um. Era solidário e ao mesmo tempo magnânimo. Ele mesmo declarou a uma instituição de caridade: “Prometi à família Steinberg que tomaria conta do Congresso Judaico-Americano”. A entidade, causa preferida da família Steinberg, colocou US$ 11 milhões nas mãos de Bernie – mais da metade do total que recebia em doações.
Bernie adorava o Bernie Madoff no qual ele mesmo se transformara: uma lenda de Wall Street, protetor das instituições de caridade, um sujeito que era rico – mas era muito mais do que isso. E ele adorava esse Bernie Madoff mesmo que só pudesse sê-lo caindo na roubalheira.
Tempos depois as pessoas se perguntariam como Bernie foi capaz de arrastar tanta gente de quem ele aparentemente gostava para o fundo do poço. Mas, ao longo de décadas, ele não fez mal a ninguém. Ao contrário: ajudou muita gente. “Vivi às custas de Bernie durante anos”, diz um investidor. Ele fala por outros. É bem provável que Bernie não embolsasse tanto dinheiro. Ele sempre pagava no prazo e nunca deixava ninguém na mão. O dinheiro saía o tempo todo, em grandes quantidades. Era uma corrida constante para sacar. A Hadassah (organização de mulheres sionistas), por exemplo, investiu US$ 90 milhões – mas retirou US$ 130 milhões ao longo dos anos.
Havia quem achasse que Bernie e Ezra eram dois lados opostos da mesma moeda. Um tinha os pés no chão, o outro era indiscutivelmente etéreo; um se escondia à vista de todos, o outro era ostensivamente público. Eles precisavam um do outro. “Madoff cativou Ezra”, diz um conhecido de Merkin. Talvez isso tenha acontecido principalmente por causa da comparação que poderia ser feita com Hermann. “Cotejado ao meu pai, Bernie Madoff talvez parecesse um sujeito bom, acolhedor”, diz Daphne. Merkin não via Bernie exatamente como um colega. Para ele, era uma espécie de mecânico, um técnico que fazia o trabalho braçal e se concentrava no que havia debaixo do capô. Madoff costumava dizer: “A única coisa que me interessa é para onde vai o mercado nos próximos quinze minutos”. Um homem assim poderia se dedicar aos detalhes enquanto os Ezra Merkins da vida pensavam em coisas mais refinadas. Para Ezra, o retorno oferecido por Madoff não era de cair o queixo – outros se saíam melhor. Mesmo assim, sua média de mais de 12% ao ano era altamente respeitável. Mas o que realmente ajudava a vender o peixe de Bernie era a estabilidade: ao longo de mais de dez anos, ele praticamente não tivera um mês sequer de queda.
Ezra levou a Bernard L. Madoff Investment Securities para lugares onde Bernie nem sonhava em chegar sozinho. A lista de pessoas e instituições que Ezra Merkin colocou nas mãos de Bernie Madoff é uma espécie de coluna social da comunidade judaica. Dela constavam Mort Zuckerman, um gigante da mídia e do setor imobiliário, e Ira Rennert, presidente da sinagoga da Quinta Avenida e proprietário de um terreno de 68 acres nos Hamptons, com vista para o mar. Mais de 30 instituições de caridade investiam com Ezra, muitas ligadas à comunidade judaica. A Ramaz e a Yeshiva, duas renomadas instituições de ensino, estavam lá. Alguns investidores afirmam que não sabiam que o fundo Ascot, de Ezra, estava todo sob os auspícios de Madoff – asserção que será discutida em vários processos judiciais, no futuro. Ezra garante que o mínimo que fazia era informar às pessoas que poderia colocar os recursos nas mãos de outros administradores. E, em algumas situações, diz ter sido ainda mais direto. No caso da Yeshiva, que tinha talvez o maior valor em doações dentre todas as organizações sem fins lucrativos gerenciadas por ele, Ezra de fato deixou clara a relação com Bernie, muito embora haja indícios de que a relação relatada por ele não tenha sido exatamente a real.
Ezra era presidente do comitê de investimentos da Yeshiva mais ou menos desde 1994. Pouco depois que ele assumiu o cargo, o comitê colocou US$ 14,5 milhões de seu fundo de doações no Ascot, quantia que Ezra repassou a Madoff – não sem antes recolher a comissão de sempre: a princípio 1% e, mais tarde, 1,5%, padrão seguido por todos os administradores do dinheiro da Yeshiva. Na verdade, ainda que Merkin conferisse mensalmente os relatórios de Madoff e fizesse perguntas sobre as opções de investimento – e ainda que os relatórios fossem detalhados e abrangentes –, a operação (ou, conforme já se sabe, a falta dela) ficava a cargo de Madoff. Hoje há quem ponha em dúvida a ética de um presidente de comitê de investimentos que recebia comissão apenas para repassar o dinheiro a Bernie. Por que não dar o dinheiro diretamente para Bernie e ajudar a Yeshiva a economizar o que se gastava em comissões? Alguns acreditam que Ezra passava a mão nos lucros da instituição que ele tanto prezava.
Ezra faturava dezenas de milhões por ano com seus fundos. E, para ele – bem como para Bernie –, dinheiro não era apenas dinheiro. Era a escada que o alçaria ao universo de seu pai, um mundo celestial que agora ele habitava por direito. Ezra chegara lá, e tinha valido a pena. Em 1995, ele pagou US$ 11 milhões por um apartamento no endereço mais prestigiado de Nova York: o número 740 da Park Avenue, onde Jackie O. fora criada e John D. Rockefeller Jr. morara no passado. Ezra não tinha motorista e circulava de metrô, mas não hesitava em comprar um duplex de 18 cômodos que pertencera a Ron Perelman, membro de sua sinagoga. E, em 2003, ele deu início à sua coleção de Rothkos. Merkin reuniu uma dúzia de obras, algumas com 4,5 metros de altura. Trata-se da maior coleção particular de pinturas do artista no mundo, com valor estimado em US$ 150 milhões.
O pai provavelmente não teria aprovado a publicidade que o filho fez das obras. Mas Ezra já enterrara esse tipo de preocupação (a bem da verdade, ele também já enterrara o pai). Para Merkin, pendurar Rothkos na parede era um grandioso gesto de autodefinição, de ostentação espiritual, assim como Frick e Carnegie haviam feito antes dele. Os visitantes ficavam perplexos. Em todos os quartos, em todas as salas, há um Rothko pendurado em uma parede de cor escura. Merkin fazia questão de dizer que os quadros não eram um investimento; ele não esperava faturar mais com eles do que faturaria com um título do Tesouro americano. Um amigo afirma: “Acho que os Rothkos estavam intimamente ligados ao desejo que Ezra tinha de superar a culpa pelo próprio sucesso”.
RECUSOU US$ 1 BILHÃO
Na estrutura irretocável construída por Ezra para si mesmo, dinheiro era a mãe da beleza e do refinamento. O processo de ganhar o dinheiro propriamente dito era uma espécie de serviço de encanamento, uma necessidade levemente inconveniente sobre a qual não se entrava em detalhes. Gente como Madoff existia justamente para arregaçar as mangas e fazer o dinheiro entrar – e Ezra garantia seu quinhão sem nem mesmo lascar uma unha. As filigranas eram de importância menor; o que interessava era o fluxo constante. É verdade que Ezra tinha um ponto cego em relação à maneira como se ganhava esse dinheiro – o mesmo vale para muita gente que ficou rica na época da bolha, inclusive para clientes do próprio Merkin. Mas tudo funcionava como uma espécie de corrupção light, que tornava possível a corrupção pesada praticada por Bernie Madoff.
Até 2002, Madoff provavelmente poderia ter vendido a Bernard L. Madoff Investment Securities por até US$ 1 bilhão. Tanto o Goldman Sachs quanto a Charles Schwab demonstraram interesse pelo negócio de formação de mercado. Mas Bernie despachava os compradores. “Eu não poderia ter um chefe”, dizia ele. “Toda a minha família trabalha aqui.” Tempos depois, um dos concorrentes de Bernie refletiu sobre esse comentário. “De certa maneira, eu me identifiquei com o que ele disse”, afirma ele. “Por outro lado, não fazia sentido. Ele teve a oportunidade de receber um cheque de US$ 1 bilhão. Por que não vendeu?” Hoje, é claro, a resposta é óbvia. Madoff tinha ido longe demais para voltar atrás. Os negócios de formação de mercado e administração de recursos estavam expostos na contabilidade; eles compartilhavam dos mesmos fundos. E, depois de 2002, o setor de formação de mercado começou a entrar em declínio acentuado. Sendo assim, teve de ser subsidiado pelo dinheiro do negócio de administração de recursos – pelo menos era o que diziam os documentos legais. Não havia possibilidade de vender a empresa. Ninguém poderia ter acesso à contabilidade de Bernie.
Um dos aspectos mais estranhos da história de Madoff é o orgulho inabalável que ele tinha do próprio sucesso. Em maio de 2008, Bernie comemorou seu 70º aniversário em uma praia do Cabo San Lucas, no México, onde também participou de um torneio de golfe. O entourage de Bernie incluía seu irmão, Peter, as esposas dos dois e os amigos mais íntimos. Certa noite o grupo se reuniu num hotel tranquilo, e as mesas para os convidados estavam arrumadas na praia, com direito a jantar à luz de velas. Um por um, os convidados ficaram de pé e fizeram brindes em homenagem a Bernie. O discurso de Ed Blumenfeld foi o mais tradicional de todos. Segundo um convidado, Blumenfeld – que trabalhava no ramo imobiliário e era um grande investidor de Bernie – teria dito: “A amizade com Bernie enriqueceu nossas vidas. Foi um privilégio tê-lo conhecido e tê-lo ao nosso lado”.
Àquela altura, Bernie provavelmente já estava percebendo que o fim se aproximava. Mas, se estava mesmo angustiado, não deixava transparecer. Bernie jogou golfe, descansou, aproveitou o sol e a bajulação. Um convidado relembra que, na praia, Bernie cantou Sweet Caroline, de Neil Diamond. A letra dizia: “Onde tudo começou/não sei nem por onde começar”.
No dia 10 de dezembro, Andy e Mark, filhos de Bernie, conversaram com o pai sobre o pagamento dos bônus. De uma hora para outra, Bernie começou a insistir em pagá-los adiantado. Ele balbuciou um comentário sobre os lucros que a empresa vinha tendo. “É um bom momento para distribuir [os bônus]”, disse aos filhos. Não fazia sentido. Os dois pressionaram o pai. Bernie estava quase abrindo o jogo. Mais tarde, Andy e Mark diriam à SEC: “Ele não tinha certeza de que seria capaz de segurar as pontas”.
Bernie insistiu para que os três conversassem na casa dele, naquela mesma noite. Diante dos filhos, Bernie falou a verdade, sem rodeios. “Acabou”, disse ele. “É tudo mentira, uma mentira sem tamanho...” Andy e Mark ligaram para a SEC – a inimiga de Bernie, como ele mesmo costumava dizer. A SEC entrou em contato com o FBI, que foi até a casa de Bernie Madoff no dia 11 de dezembro. Bernie abriu a porta de robe azul-claro e com pantufas nos pés. Um dos agentes disse: “Estamos aqui para saber se existe uma justificativa inocente”. Bernie provavelmente ensaiou aquele momento durante anos. “Não existe nenhuma justificativa inocente”, disse ele. O tom de sua voz quase denotava um ar de alívio.
Ezra Merkin está no fundo do poço. “A vida que ele conhecia acabou, e nunca mais vai voltar”, diz o irmão Sol. Ele acrescenta: “Ezra não merecia isso”. Merkin está liquidando seus fundos, e foi exilado da maioria das comunidades de que tanto gostava. A investigação comandada por Andrew Cuomo, procurador-geral do estado de Nova York, quer saber se Ezra enganou deliberadamente as instituições filantrópicas cujos fundos administrava, com o objetivo de obter enriquecimento pessoal. Por insistência do governo americano, ele renunciou ao cargo de presidente do GMAC – condição estabelecida para que os US$ 5 bilhões do credor fossem cobertos. Até o momento, Ezra, judeu praticante, ainda se senta todos os sábados no banco reservado ao presidente da sinagoga. Alguns integrantes da congregação estão escandalizados, e é certo que vários têm a intenção de processá-lo. Processar Madoff não seria prático – ele não ficou com nenhum ativo. Sendo assim, essas pessoas pretendem acertar as contas com Ezra: na condição de sócio-geral, ele pode ser pessoalmente responsabilizado. Um advogado afirma: “Ele vai passar o resto da vida no tribunal”. A grande ironia é que o sábio vai alegar que não sabia do golpe até o último minuto.
Mas de certa forma o caso não acabou. Na verdade, está apenas começando. Ezra Merkin tem um fascínio – um “grande fascínio”, como costuma dizer aos amigos – por saber quais serão os próximos acontecimentos de sua vida. Quando fala das vítimas de Madoff – cujos recursos ele mesmo deveria ter salvaguardado – ele é categórico. Aos amigos, Merkin diz: “Perdi muito dinheiro, de muita gente”. A afirmação revela uma nota de obtusidade. Novos casos de instituições de caridade destruídas, de aposentadorias que foram pelo ralo, de casas postas à venda de uma hora para outra surgem diariamente. Será que o correto não seria que Ezra estivesse se autoflagelando? Mas ele afirma que foi tão logrado quanto os outros, e diz a si mesmo que precisa resistir, que não pode fraquejar. E assim ele conversa consigo mesmo sobre o que ele era: um homem que tinha uma esposa amorosa e quatro filhos que o adoravam – ele é um pai muito melhor do que Hermann foi. “Tenho de superar essa fase”, afirma ele aos amigos. Se é que isso será possível. Quanto ao futuro, ele não sabe qual será o desfecho da história. Recentemente, Ezra vem dizendo que é um ser humano livre da necessidade de dinheiro e prestígio – duas coisas que deram forma à sua vida. Ele é capaz de começar de novo, de se reinventar. Vai dar tudo certo, raciocina. Ezra sabe tão bem quanto todo mundo que seu sucesso financeiro foi de uma importância capital. O dinheiro era o cerne de sua vida. Garantiu todos aqueles Rothkos de tirar o fôlego que estavam pendurados nas paredes de sua casa; alçou-o às primeiras posições dos mais elevados rankings sociais. Agora tudo vai mudar. Ele já está pensando de um jeito diferente. Diz que talvez se dedique a algo mais contemplativo, como ler ou escrever. O que quer que aconteça, “não precisamos de um estilo de vida milionário para ser felizes”, afirma aos amigos. E acrescenta: “Pelo menos eu acho que não”.
(Tradução de Beatriz Velloso)
Chuva e Afonso Romano: um poema só
O humor e a poesia às vezes resvalam um no outro, fazendo-nos seres humanos e completos. São duas características humanas essenciais, pois passam pelas sinapses e pelo filtro do coração.
Poesia é o tempo condensado,
e de nós só sobreviverá isto.
Poetemos, pois, amiga,amigo.
Nessa tarde de chuva,
apresento-lhe um belo poema
de Afonso Romano de Santanna,
simpático e sábio mineiro de Juiz de Fora,
e que encontrei pela primeira vez
há uns vinte dias atrás em BH.
Está no livrinho da LPM
Intervalo Amoroso
(12 pratinhas pra tanta beleza...?):
Imagem
Não sou dono dessa imagem que sou eu.
Não sou dono dessa imagem:ele
Ele não sou eu.
Conversamos nos desvãos das frases.
Intervalamos pronomes pessoais.
eu sou meu ele?
Com essa caneta na mão escrevo.
Com essa cabeça nos ombros espantado penso.
Olho aquele, elo, ele.
Quem sou ele?
Desamparado me perco no intervalo
do espelho.
Poesia é o tempo condensado,
e de nós só sobreviverá isto.
Poetemos, pois, amiga,amigo.
Nessa tarde de chuva,
apresento-lhe um belo poema
de Afonso Romano de Santanna,
simpático e sábio mineiro de Juiz de Fora,
e que encontrei pela primeira vez
há uns vinte dias atrás em BH.
Está no livrinho da LPM
Intervalo Amoroso
(12 pratinhas pra tanta beleza...?):
Imagem
Não sou dono dessa imagem que sou eu.
Não sou dono dessa imagem:ele
Ele não sou eu.
Conversamos nos desvãos das frases.
Intervalamos pronomes pessoais.
eu sou meu ele?
Com essa caneta na mão escrevo.
Com essa cabeça nos ombros espantado penso.
Olho aquele, elo, ele.
Quem sou ele?
Desamparado me perco no intervalo
do espelho.
sexta-feira, 10 de dezembro de 2010
Uma época deslumbrante de otimismo: o noivado
Observar o brilho dos olhares de um noivo e noiva é descobrir onde se aloja todo o otimismo do mundo. E, como é época de natal, no pacote de bondades do Bloguz, uma lista de frases sobre o assunto, algumas perfeitamente aproveitáveis para inscrições nos cartões de presentes dos dois otimistas, como no último desenho que fiz, hoje à tarde...
Frases de casamento
Frase de casamento: "O casamento é um livro cujo primeiro capítulo é escrito em verso e os demais, em prosa."Autor: Beverly Nichols
Frase de casamento: "Maridos são como fogo. Apagam se não são alimentados."Autor: Zsa Zsa Gabor
Frase de casamento: "Um homem de sucesso é o que ganha mais dinheiro do que sua mulher consegue gastar. Uma mulher de sucesso é a que consegue encontrar um homem desses."Autor desconhecido
Frase de casamento: "Um otimista é aquele que acredita que o casamento é um jogo."Autor: Laurence J. Peter
Frase de casamento: "A vida de casado ensina uma lição inestimável: pensar sobre as coisas antecipadamente o bastante para não dize-las."Autor: Jefferson Machamer
Frase de casamento: "Casamento é uma longa conversa entremeada de disputa."Autor: Robert Louis Stevenson
Frase de casamento: "Casamento é o destino tradicionalmente oferecido às mulheres pela sociedade. Também é verdade que a maioria delas é casada, ou já foi, ou planeja ser, ou sofre por não ser."Autor: Simone de Beauvoir
Frase de casamento: "Um marido diz para sua mulher: "Não, eu não odeio sua família. Alias, gosto da sua sogra muito mais do que da minha."Autor desconhecido
Frase de casamento: "O pavor da solidão é maior que o medo da escravidão: assim, nos casamos."Autor: Cyril Connolly
Frase de casamento: "O problema do casamento são as diferenças de expectativas: a mulher acha que o homem vai mudar após o casamento, enquanto que o homem acha que a mulher não vai mudar após o casamento."Autor: Autor desconhecido
Frase de casamento: "As mulheres começam por resistir aos avanços de um homem e terminam por bloquear a sua retirada."Autor: Oscar Wilde
Frase de casamento: "O único argumento real a favor do casamento é que ele continua sendo o melhor método para se conhecer alguém."Autor: Heywood Braun
Frase de casamento: "Meu conselho é que se case; se você arrumar uma boa esposa, será feliz; se arrumar uma esposa ruim, se tornará um filósofo."Autor: Sócrates
Frase de casamento: "Mulheres casadas e solteiras perdem muito tempo sentindo pena umas das outras."Autor desconhecido
Frase de casamento: "Não importa com quem você se case, sempre acorda casado com outra pessoa."Autor: Marlon Brando
Frase de casamento: "Casamento não é o paraíso nem o inferno; é apenas o purgatório."Autor: Abraham Lincoln
Frase de casamento: "Somos todos amadores no início do casamento; alguns de nós amadores com mais sorte que os outros."Autor: John Leonard
Frase de casamento: "Um homem e uma mulher se casam porque não sabem o que fazer consigo mesmos."Autor: Anton Chekov
Frase de casamento: O casamento é como uma longa viagem em um pequeno barco a remo: se um passageiro começar a balançar o barco, o outro terá que estabilizá-lo; caso contrário, os dois afundarão juntos."Autor: Dr. David Reuben
Frase de casamento: "Homens que têm orelhas furadas estão mais preparados para o casamento: eles já experimentaram a dor e já compraram jóias."Autor desconhecido
Frase de casamento: "O casamento é um edifício que deve ser reconstruído todos os dias."Autor: André Maurois
Frase de casamento: "Se os homens agissem depois do casamento da maneira como agem durante o namoro, haveria menos divórcios – e mais falências."Autor: Frances Rodman
Frase de casamento: "Não discuta com sua esposa quando ela estiver dobrando seu para-quedas."Autor desconhecido
Frase de casamento: "O valor do casamento não está no fato de adultos produzirem crianças, mas de crianças produzirem adultos."Autor: Peter de Vries
Frase de casamento: "Maridos e esposas não entendem um ao outro porque são de sexos diferentes."Autor desconhecido
Frase de casamento: "O casamento é o triunfo do hábito sobre o ódio."Autor: Oscar Levant
Frase de casamento: "O problema do casamento é que, enquanto toda mulher é no íntimo uma mãe, todo homem é um advogado."Autor: Edward Verrall Lucas
Frase de casamento: "Vocês estudam um ao outro por três semanas, se amam por três meses, brigam por três anos e toleram a situação por trinta anos."Autor: André de Missan
Frase de casamento: "O casamento representa a intervenção do Estado em um caso de amor que, provavelmente, já não estava indo muito bem."Autor: Mignon McLaughlin
Frase de casamento: "Casamento: cerimônia em que se coloca uma aliança no dedo da mulher e outra no nariz do homem."Autor: Herbert Spencer
Frase de casamento: "Casar-se com um homem é como comprar alguma coisa que você esteve admirando por muito tempo em uma vitrine. Você pode amar quando compra, mas ele nem sempre combina como resto da casa."Autor: Jean Kerr
Frase de casamento: "O casamento é a única sentença perpétua que é suspensa por mau comportamento."Autor: Louisville Times
Frase de casamento: "Casamento é a única aventura aberta aos covardes." (Voltaire)
Frase de casamento: "Casamento é realmente algo difícil; você tem que lidar com sentimentos e advogados."Autor: Richard Pryor
Frase de casamento: "Apaixonar-se perdidamente por alguém não é necessariamente o ponto de partida para se casar."Autor: Príncipe Charles
Frase de casamento: "Casamento é um seguro para os piores anos de sua vida. Durante os melhores anos você não precisa de um marido."Autor: Helen G. Brown
Frase de casamento: "O casamento é a maneira de um homem descobrir que tipo de marido sua mulher teria preferido."Autor desconhecido
Frase de casamento: "O casamento se assemelha a uma tesoura; lâminas tão presas entre si que dificilmente podem ser separadas, se movendo geralmente em direções opostas e, no entanto, sempre ferindo qualquer um que se coloque entre elas."Autor: Sydney Smith
Frase de casamento: "Casamento é um jogo de paciência a duas mãos. O casamento tem muito de um circo; não existe nele tudo quanto anunciado na propaganda."Autor: Edgar Watson Howe
Frase de casamento: "O amor é uma coisa ideal, casamento uma coisa real; uma confusão entre o ideal e o real nunca acaba impune."Autor: Goethe
Frase de casamento: "Eu às vezes penso em casar – aí penso mais um pouco."Autor: Noel Coward
Frase de casamento: "Eu gostaria de me casar porque gosto da idéia de um homem sendo legalmente forçado a dormir comigo todas as noites."Autor: Carrie Snow
Frase de casamento: "A melhor parte da vida de casado são as brigas. O resto é meramente regular."Autor: Thornton Wilder
Frase de casamento: "Vida de casado não é tão ruim; depois de se casar, você pode comer as coisas que sua esposa gosta."Autor: Frank Hubbard
Frase de casamento: "Quando um casal recém-casado ri, todo mundo sabe por que. Quando um casal com 10 anos de casado ri, todo mundo se pergunta por que."Autor desconhecido
Frase de casamento: "Você sabe que a lua-de-mel terminou quando você liga para casa para dizer que vai chegar tarde e a secretária eletrônica responde que o jantar está no micro-ondas."Autor desconhecido
Frase de casamento: "Já fui casado por um juiz. Eu deveria ter pedido um júri."Autor: George Burns
Frase de casamento: "Um marido é o que sobra de um amante depois que o nervo é extraído."Autor: Helen Rowland
Frase de casamento: "As correntes do casamento são tão pesadas que são necessárias duas pessoas para carregá-las, e às vezes três."Alexandre Dumas Filho
Frase de casamento: "Casamento baseia-se na teoria segundo a qual, quando um homem descobre uma marca de cerveja que corresponda exatamente ao seu gosto, ele deve jogar fora seu emprego e ir trabalhar na cervejaria."Autor: George Jean Nathan
Frase de casamento: "O casamento deve combater incessantemente um monstro que devora tudo: o hábito."Autor: Honoré de Balzac
FRASES PARA CARTÕES DE CASAMENTO E VOTOS PARA OS NOIVOS
Que este amor que os uniu permaneça para sempre no coração de vocês.
Nossos votos de uma união feliz e duradoura.
Que a alegria deste dia de festa permaneça no coração de vocês durante todos os anos desta feliz união.
Desejamos a vocês uma vida repleta de paz, amor e harmonia.
Que este amor que os uniu se multiplique a cada dia desta nova vida que irão começar.
Um casamento feliz se constrói com muito amor, carinho e compreensão. Que estes sentimentos estejam sempre presentes na vida de vocês!
Se um dia passarem por momentos difíceis, olhem nos olhos um do outro e resgatem o amor verdadeiro que os uniu. Ele lhes dará forças para superar e seguir.
A vida é feita de momentos bons e ruins. Aproveitem intensamente os bons e estejam unidos para superar os ruins. Assim se constrói um casamento duradouro e feliz!
Palavras não conseguiriam expressar a alegria que sentimos ao ver nossos queridos amigos realizando o seu sonho. Sejam muito felizes!
A felicidade consiste em partilhar as pequenas e as grandes coisas com as pessoas que amamos. Que este dia de festa seja apenas o início de uma vida cheia de alegrias!
Que alegria encontrar a pessoa que nos foi destinada por Deus! Que Ele abençoe esta união e esteja sempre presente no novo lar de vocês.
O noivado é o início de uma deliciosa vida a dois. Aproveitem cada minuto!
Que todos os planos que vocês fizeram juntos se concretizem com esta feliz união.
É tempo de otimismo : mais um noivado!Dezembro de 2010
Se quiserem encontrar otimismo e otimistas, contemplem os noivos.Pode ser apenas uma época, um tempo, minutos até. Mas a dosagem de otimismo é deslumbrante. E para facilitar os futuros convidados de casamentos a não sofrerem muito com frases que irão nos cartões dos presentes, o tio Guz selecionou sessenta delas.Copiem à vontade...rá...rá...ráFrases de casamento
Frase de casamento: "O casamento é um livro cujo primeiro capítulo é escrito em verso e os demais, em prosa."Autor: Beverly Nichols
Frase de casamento: "Maridos são como fogo. Apagam se não são alimentados."Autor: Zsa Zsa Gabor
Frase de casamento: "Um homem de sucesso é o que ganha mais dinheiro do que sua mulher consegue gastar. Uma mulher de sucesso é a que consegue encontrar um homem desses."Autor desconhecido
Frase de casamento: "Um otimista é aquele que acredita que o casamento é um jogo."Autor: Laurence J. Peter
Frase de casamento: "A vida de casado ensina uma lição inestimável: pensar sobre as coisas antecipadamente o bastante para não dize-las."Autor: Jefferson Machamer
Frase de casamento: "Casamento é uma longa conversa entremeada de disputa."Autor: Robert Louis Stevenson
Frase de casamento: "Casamento é o destino tradicionalmente oferecido às mulheres pela sociedade. Também é verdade que a maioria delas é casada, ou já foi, ou planeja ser, ou sofre por não ser."Autor: Simone de Beauvoir
Frase de casamento: "Um marido diz para sua mulher: "Não, eu não odeio sua família. Alias, gosto da sua sogra muito mais do que da minha."Autor desconhecido
Frase de casamento: "O pavor da solidão é maior que o medo da escravidão: assim, nos casamos."Autor: Cyril Connolly
Frase de casamento: "O problema do casamento são as diferenças de expectativas: a mulher acha que o homem vai mudar após o casamento, enquanto que o homem acha que a mulher não vai mudar após o casamento."Autor: Autor desconhecido
Frase de casamento: "As mulheres começam por resistir aos avanços de um homem e terminam por bloquear a sua retirada."Autor: Oscar Wilde
Frase de casamento: "O único argumento real a favor do casamento é que ele continua sendo o melhor método para se conhecer alguém."Autor: Heywood Braun
Frase de casamento: "Meu conselho é que se case; se você arrumar uma boa esposa, será feliz; se arrumar uma esposa ruim, se tornará um filósofo."Autor: Sócrates
Frase de casamento: "Mulheres casadas e solteiras perdem muito tempo sentindo pena umas das outras."Autor desconhecido
Frase de casamento: "Não importa com quem você se case, sempre acorda casado com outra pessoa."Autor: Marlon Brando
Frase de casamento: "Casamento não é o paraíso nem o inferno; é apenas o purgatório."Autor: Abraham Lincoln
Frase de casamento: "Somos todos amadores no início do casamento; alguns de nós amadores com mais sorte que os outros."Autor: John Leonard
Frase de casamento: "Um homem e uma mulher se casam porque não sabem o que fazer consigo mesmos."Autor: Anton Chekov
Frase de casamento: O casamento é como uma longa viagem em um pequeno barco a remo: se um passageiro começar a balançar o barco, o outro terá que estabilizá-lo; caso contrário, os dois afundarão juntos."Autor: Dr. David Reuben
Frase de casamento: "Homens que têm orelhas furadas estão mais preparados para o casamento: eles já experimentaram a dor e já compraram jóias."Autor desconhecido
Frase de casamento: "O casamento é um edifício que deve ser reconstruído todos os dias."Autor: André Maurois
Frase de casamento: "Se os homens agissem depois do casamento da maneira como agem durante o namoro, haveria menos divórcios – e mais falências."Autor: Frances Rodman
Frase de casamento: "Não discuta com sua esposa quando ela estiver dobrando seu para-quedas."Autor desconhecido
Frase de casamento: "O valor do casamento não está no fato de adultos produzirem crianças, mas de crianças produzirem adultos."Autor: Peter de Vries
Frase de casamento: "Maridos e esposas não entendem um ao outro porque são de sexos diferentes."Autor desconhecido
Frase de casamento: "O casamento é o triunfo do hábito sobre o ódio."Autor: Oscar Levant
Frase de casamento: "O problema do casamento é que, enquanto toda mulher é no íntimo uma mãe, todo homem é um advogado."Autor: Edward Verrall Lucas
Frase de casamento: "Vocês estudam um ao outro por três semanas, se amam por três meses, brigam por três anos e toleram a situação por trinta anos."Autor: André de Missan
Frase de casamento: "O casamento representa a intervenção do Estado em um caso de amor que, provavelmente, já não estava indo muito bem."Autor: Mignon McLaughlin
Frase de casamento: "Casamento: cerimônia em que se coloca uma aliança no dedo da mulher e outra no nariz do homem."Autor: Herbert Spencer
Frase de casamento: "Casar-se com um homem é como comprar alguma coisa que você esteve admirando por muito tempo em uma vitrine. Você pode amar quando compra, mas ele nem sempre combina como resto da casa."Autor: Jean Kerr
Frase de casamento: "O casamento é a única sentença perpétua que é suspensa por mau comportamento."Autor: Louisville Times
Frase de casamento: "Casamento é a única aventura aberta aos covardes." (Voltaire)
Frase de casamento: "Casamento é realmente algo difícil; você tem que lidar com sentimentos e advogados."Autor: Richard Pryor
Frase de casamento: "Apaixonar-se perdidamente por alguém não é necessariamente o ponto de partida para se casar."Autor: Príncipe Charles
Frase de casamento: "Casamento é um seguro para os piores anos de sua vida. Durante os melhores anos você não precisa de um marido."Autor: Helen G. Brown
Frase de casamento: "O casamento é a maneira de um homem descobrir que tipo de marido sua mulher teria preferido."Autor desconhecido
Frase de casamento: "O casamento se assemelha a uma tesoura; lâminas tão presas entre si que dificilmente podem ser separadas, se movendo geralmente em direções opostas e, no entanto, sempre ferindo qualquer um que se coloque entre elas."Autor: Sydney Smith
Frase de casamento: "Casamento é um jogo de paciência a duas mãos. O casamento tem muito de um circo; não existe nele tudo quanto anunciado na propaganda."Autor: Edgar Watson Howe
Frase de casamento: "O amor é uma coisa ideal, casamento uma coisa real; uma confusão entre o ideal e o real nunca acaba impune."Autor: Goethe
Frase de casamento: "Eu às vezes penso em casar – aí penso mais um pouco."Autor: Noel Coward
Frase de casamento: "Eu gostaria de me casar porque gosto da idéia de um homem sendo legalmente forçado a dormir comigo todas as noites."Autor: Carrie Snow
Frase de casamento: "A melhor parte da vida de casado são as brigas. O resto é meramente regular."Autor: Thornton Wilder
Frase de casamento: "Vida de casado não é tão ruim; depois de se casar, você pode comer as coisas que sua esposa gosta."Autor: Frank Hubbard
Frase de casamento: "Quando um casal recém-casado ri, todo mundo sabe por que. Quando um casal com 10 anos de casado ri, todo mundo se pergunta por que."Autor desconhecido
Frase de casamento: "Você sabe que a lua-de-mel terminou quando você liga para casa para dizer que vai chegar tarde e a secretária eletrônica responde que o jantar está no micro-ondas."Autor desconhecido
Frase de casamento: "Já fui casado por um juiz. Eu deveria ter pedido um júri."Autor: George Burns
Frase de casamento: "Um marido é o que sobra de um amante depois que o nervo é extraído."Autor: Helen Rowland
Frase de casamento: "As correntes do casamento são tão pesadas que são necessárias duas pessoas para carregá-las, e às vezes três."Alexandre Dumas Filho
Frase de casamento: "Casamento baseia-se na teoria segundo a qual, quando um homem descobre uma marca de cerveja que corresponda exatamente ao seu gosto, ele deve jogar fora seu emprego e ir trabalhar na cervejaria."Autor: George Jean Nathan
Frase de casamento: "O casamento deve combater incessantemente um monstro que devora tudo: o hábito."Autor: Honoré de Balzac
FRASES PARA CARTÕES DE CASAMENTO E VOTOS PARA OS NOIVOS
Que este amor que os uniu permaneça para sempre no coração de vocês.
Nossos votos de uma união feliz e duradoura.
Que a alegria deste dia de festa permaneça no coração de vocês durante todos os anos desta feliz união.
Desejamos a vocês uma vida repleta de paz, amor e harmonia.
Que este amor que os uniu se multiplique a cada dia desta nova vida que irão começar.
Um casamento feliz se constrói com muito amor, carinho e compreensão. Que estes sentimentos estejam sempre presentes na vida de vocês!
Se um dia passarem por momentos difíceis, olhem nos olhos um do outro e resgatem o amor verdadeiro que os uniu. Ele lhes dará forças para superar e seguir.
A vida é feita de momentos bons e ruins. Aproveitem intensamente os bons e estejam unidos para superar os ruins. Assim se constrói um casamento duradouro e feliz!
Palavras não conseguiriam expressar a alegria que sentimos ao ver nossos queridos amigos realizando o seu sonho. Sejam muito felizes!
A felicidade consiste em partilhar as pequenas e as grandes coisas com as pessoas que amamos. Que este dia de festa seja apenas o início de uma vida cheia de alegrias!
Que alegria encontrar a pessoa que nos foi destinada por Deus! Que Ele abençoe esta união e esteja sempre presente no novo lar de vocês.
O noivado é o início de uma deliciosa vida a dois. Aproveitem cada minuto!
Que todos os planos que vocês fizeram juntos se concretizem com esta feliz união.
Em Carneirinhos (ou Monlevade) desenhando novos velhos amigos...e Bruna
Na noite de 27 de novembro passado, em Monlevade, desenhei na festa da debutante Bruna, contratado por Luis, uma padrasto para pai nenhum botar defeito.Das 22h até as 4.30 h do domingo desenhei um número irrequieto de adolescentes simpáticos onde,pela primeira vez, os homens foram mais afoitos que as moças.A nota curiosa da viagem foi descobrir que não existe a cidade de Monlevade, mas sim Carneirinhos, onde tudo acontece.Monlevade é hoje somente a usina siderúrgica Arcelor-Mittal, a ex-Belgo Mineira.Porque será que não adotam definitivametne a denominação correta, Carneirinhos?Mistérios dos paradigmas mineiros.
Do Luis e Patrícia recebemos ( todos os contratados) este belo agradecimento, que transcrevo:
Em 1 de dezembro de 2010 18:23, Luis
JM, 28.11.2010
Aninha, Lívia, Ambrósio, Guz, Isabel, Márcio, Michele Mitiko & Cia., Nana Xavier, Kézyo, Cris mimo, Giovana Mara, Adélia, Gilda, Cris Rosa, Cristian, Lumali, Monica, Fernanda, Matheus, Gláucia, Arthur
Agradeço pelo dia de ontem
onde a felicidade se fez presente.
Agradeço a noite de descanso,
Onde os bons sonhos reinaram.
E isso tudo só aconteceu graças a vocês...
O engajamento de todos vocês nos trouxeram:
Força, Paz, Alegria e Felicidades.
Força para lutar e superar as dificuldades,
Alegria pelo simples prazer de viver o momento mágico,
Paz porque acalmaram nossos corações com a materialização do sonho,
Felicidade por terem feito muito feliz quem amamos...
Enfim, obrigado a cada um de vocês que tornaram o sonho da Bruna realidade, que transformaram o dia 27.11.2010 em inesquecível e que deixaram uma bela lição de vida a todos nós, a lição de que a beleza, a magia e o encantamento existem sempre em todos os momentos de nossas vidas, em seus mínimos detalhes ...
E mesmo quando não houver frutos, valeu a beleza das flores!!!
Mesmo quando não houver flores, valeu a sombra das folhas!!!
E se ainda não houver folhas, valeu a intenção da semente!!!...
A vocês, nosso muito obrigado!
Luís & Patrícia
A minha resposta, conovida pelo carinho que me dedicaram:
Queridos Patrícia & Luís:
Definí-me há muito como um caçador de acasos, com o fazimento das minhas singulares artes como uma ponta de lança para aumentar a minha maior riqueza: meus amigos e amigas.A tal ponto, que hoje em dia meu patrimônio do afeto poderá estar ameaçando os biugueites do mundo. Para isso, instituí uma categoria para desafiar o destino, sempre caprichoso: MMNVA, meus mais novos velhos amigos. Não é porque não nos encontramos há tempos que não somos velhos amigos. Isso seria uma vitória dos desencontros e dos acasos também caprichosos.Vamos vencê-los e ignorá-los.
Vocês são, definitivamente, meus mais novos velhos amigos.
E agradeço-lhes o carinho tão poéticamente manifestado
abraçando-os com o melhor dos meus músculos:
meu coração.
Beijuz
do
Guz
(Bruninha incluída, sempre)
O release do Guz
Desenho caricaturas individuais, casais e grupos, e no caso da consulta, já elaborei a arte para várias formaturas, como pode ser visto no link
www.formaturasdoguz.blogspot.com
Como está expresso na proposta que se segue, envio-lhe a arte final em arquivo que pode ser impresso nas dimensões que encomendar. No banner do casal, em anexo, as dimensões foram : H = 120 cm e L = 90 cm.Para atualizá-la, envio-lhe nos anexos os trabalhos que andei fazendo nos últimos tempos.São também encomendas via internet, através de fotos, com as cores em photoshop.Em eventos, utilizo nanquim e aquarela para colorir.Para as 35 em consulta, favor informar-me o prazo máximo que terei para enviar-lhe.
Caricaturas do Guz:
não faça o seu evento sem elas!
* 1) Caricaturas em eventos:
* esta é uma das modalidades do meu trabalho, quando as caricaturas são elaboradas durante um evento...
Para eventos, o custo de atuação é de R$ 100,00 / hora (cem reais por hora), com o mínimo de tres horas.O valor é líquido, principalmente uando for necessário recibo que, na legislação vigente, é o RPA ( Recibo de pagamento de autônomo).Para eventos situados fora de Belo Horizonte devem ser incluidos os custos de transporte e hospedagem , se necessários. Todo o material utilizado por mim está incluso no preço acima: papéis, envelopes, canetas, lápis, etc. Os desenhos são tracejados em nanquim e coloridos em aquarela.
*
2) Caricaturas delivery by web
Encomendas de caricaturas via internet, através de fotos,
veja nos links abaixo o meu portfólio.
* Caricaturas de grupos : R$50,00 (cinquenta reais) por modelo.
* Individuais: R$ 90,00 ( noventa reais)
* Casais: R$ 120,00 ( cento e vinte reais)
* Enviar fotos frontais e recentes, se possível, sem sombras. Características pessoais sempre ajudam. Farei o esboço e enviarei para aprovação.
* Após o que, será feito o depósito em minha conta corrente.
* Posso enviar os arquivos (JPEG, com fundo, e PNG, sem fundo) por e-mail, para impressão em gráfica ou copiadora.
*
Obrigaço
(obrigado e um abraço)
do
Guz
Paulo Cangussu
www.guz.com.br
www.blogdecaricaturas.blogspot.com
www.caricaturasdelivery.blogspot.com
www.eventoscomcaricaturas.blogspot.com
www.caricaturasparaemmpresas.blogspot.com
www.contrateoguz.blogspot.com
www.caricaturasdoguz.blogspot.com
www.taxofilo.blogspot.com
www.humortrainner.blogspot.com
www.formaturasdoguz.blogspot.com
www.caricare.blogspot.com
www.bloguz.blogspot.com
www.guztube.blogspot.com
http://blogln.ning.com/profiles/blog/list
( No Portal do Luiz Nassif)
http://blip.fm/GuzCartunista
(a Rádio Guz FM, com as preferidas)
www.youtube.com/guzcartunista
http://twitter.com/guzcartunista
(31)99299882
Skype= guz2008
Trabalhando e rindo
(Algumas formas de criatividade, não menos importantes, são ao mesmo tempo imateriais e transitórias. Uma das mais importantes é a capacidade de provocar o riso nas pessoas. Vivemos em um vale de lágrimas, que começa com o choro do bebê e não se torna menos triste à medida que envelhecemos. O humor que eleva os nossos espiritos é um dos mais valiosos alívios humanos, e o dom de provocar riso é raro e valioso.
Paul Johnson, Os criadores - Ed. Campus)
Porque as empresas também não deveriam ter uma (sala de recreio), pelo menos? Porque nós sempre falamos: oi, benzinho, hoje à noite vamos ver uma comédia para rirmos e relaxarmos um pouco?(Não estamos falando de programas políticos) E nunca dizemos: oi, bem, estou indo para a empresa para me divertir um pouco... Porque lá é um lugar de gente séria, gente que não brinca em serviço. Nunca! Imaginem se eu, um operador de ponte rolante, fica rindo no serviço. Qualquer coisa, pimba. A carga caindo na cabeça de alguém. A atenção é fundamental, não há dúvida, e para tudo tem há sua hora. Mas ninguém pode ficar tenso durante um turno inteiro. Disso advirá o estresse, o colapso, e todos nós sabemos os acidentes. O riso é fundamental para a nossa existência porque está ligado à nossa emoção. Dentre as funções da expressão emocional, o riso vem em primeiro lugar, pois, segundo Darwin, estudado por Asch (1977), os movimentos faciais a que denominamos expressivos eram, originariamente, parte de atividades práticas. Mostrar os dentes fazia parte da preparação para o ataque.
Quais são os últimos anúncios de TV que lembramos dos últimos seis meses? Dos engraçados, dos que os trazem o riso, a descontração.
Para falarmos do riso e sua história, levaríamos muito mais tempo do que dispomos hoje. Desde a interpretação de Darwin, que afirmou que o riso atual é a evolução de uma expressão facial de ataque até a expressão emocional que temos hoje, até às ultimas descobertas dos efeitos do riso em nosso metabolismo .Sabe-se hoje que ele é fator importante para a secreção de enzimas que protegem o estômago, que ajuda no aumento de anticorpos naturais do organismo que combatem infecções respiratórias. O riso também ajuda no transporte de nutrientes e oxigênio para os tecidos corporais, liberando também endorfinas que atuam como analgésico natural.
O riso provoca a liberação de um neurotransmissor chamado serotonina, que agiliza a comunicação entre os neurônios. Se, ao contrário, o organismo se encontra submetido ao estresse ou está sobrecarregado de tensão, os circuitos neurais acusam a falta de serotonina, alterando assim a comunicação entre estes e, consequentemente, provoca o desequilíbrio do organismo afetando, portanto, o processo cognitivo.
O riso é um grande facilitador do aprendizado. Nérici (1973, p.14) afirma que: "A educação tem de se inspirar na Filosofia devido à convicção de que o homem não pode ser tratado como objeto, mas como algo excepcional que se revela pela sua criatividade, sua tendência para a liberdade, sua capacidade de auto-limitar-se e de aspirar, bem como a sua inquietação interior, que o impele para o transcendental". Precisamos muitas vezes articular um pequeno mas sincero sorriso a fim de nos aproximarmos de alguém e isto também se dá no processo ensino-aprendizagem. Fazemos nossas as palavras de Grisi (1985, p. 11) quando diz: "O regime de disciplina férrea não cria caracteres viris, antes pode formar indivíduos subservientes ou amargurados.”.
O humor e o seu efeito, o riso, atuam como antídotos à desconfiança e ao stress .Herbert Lefcourt um eminente psicólogo da Universidade de Waterloo, no Canadá, estudou a hipótese de que o senso de humor, e o seu uso, podem alterar a nossa resposta ao stress. Na sua pesquisa, pessoas foram consultadas sobre a freqüência e a severidade de mudanças estressantes ocorridas com elas nos últimos seis meses, e os seus recentes distúrbios de temperamentos eram avaliados. Lefcourt aplicou testes de avaliação de humor, percepção de humor, riso, e esforços de inclusão de humor e riso nas formas de vida de cada um. Resultados da pesquisa mostraram que a habilidade de incluir a prática e o senso de humor podem alterar positivamente as perturbações de estados de espírito resultantes de eventos negativos. Não fumar, manter uma alimentação equilibrada e praticar exercícios físicos, já está provado, são medidas que fazem viver mais e melhor.
Agora, a medicina estuda a importância do bom humor e dos sentimentos positivos na prevenção de determinadas doenças e até mesmo como fator de recuperação de pessoas vitimadas por moléstias graves. O surradíssimo ditado "rir é o melhor remédio" começa, enfim, a ganhar respaldo científico. Pesquisas recentes comprovam que boas risadas (nada a ver com aquelas que somos obrigados a dar quando o chefe conta uma piada sem graça) podem ter o efeito de uma sessão de ginástica. Protegem o coração, aliviam o stress, fortalecem o sistema imunológico, facilitam a digestão e limpam os pulmões (veja quadro).
A risada é o principal objeto da maioria desses estudos, por se tratar da expressão mais explícita do bom humor e da positividade. Sua interferência no funcionamento do corpo é, portanto, mais fácil de ser medida. "Quando rimos, rimos com o corpo todo", define o psiquiatra americano William Fry, da Universidade Stanford, especialista no assunto. Um dos seus maiores efeitos é reduzir a liberação dos hormônios associados ao stress, o cortisol e a adrenalina. Em excesso, essas substâncias enfraquecem as defesas do organismo e elevam a pressão arterial, criando o cenário para o desenvolvimento de infecções e para um infarto.
Um estudo revelador sobre os benefícios do bom humor para a saúde do coração foi conduzido pelo patologista Lee Berk, diretor do Centro de Neuroimunologia da Universidade de Loma Linda, na Califórnia. A equipe do doutor Berk acompanhou durante um ano 100 homens que já haviam enfartado, monitorando diariamente a pressão arterial, as taxas de adrenalina e as doses de medicamentos de cada paciente. Eles foram divididos em dois grupos, dos quais um era obrigado a assistir meia hora por dia a uma comédia televisiva. O resultado foi surpreendente: os que foram submetidos às sessões de risada sofreram menos episódios de arritmia, apresentaram redução na pressão arterial e tiveram de tomar menos remédios contra angina. A recorrência de infarto no grupo dos risonhos foi de 8%. No outro, de 42%.
* O humor nos permite mudar a perspectiva de nossos problemas, e com o afastamento, nos permitimos sentir autoprotegidos, com o ambiente à nossa volta sob controle. Freud anotou a poderosa influência psicológica do estado de humor: Como o espirituoso e o cômico, o humor tem um elemento de libertação. É o triunfo do narcisismo, a assertiva vitoriosa do ego de sua própria invulnerabilidade,”(Chistes, 1905). Quando optamos por rir de ou sobre uma determinada situação, nós passamos a nós mesmos a mensagem sutil: ”Veja, Isto não é tão ameaçador. É risível e absurdo de certa maneira. “Não posso levar tão a sério.”
* A palavra humor tem muitos significados. “A raiz de onde advém é “umor”“, significando líquido, fluido. Na Idade Média e Renascença, humor era um dos quatro fluidos básicos do corpo que determinavam o temperamento e saúde humanos (sangüíneo, fleumático, colérico, melancólico). Um dicionário define humor como “a qualidade de ser risível ou cômico” ou “estado da mente, temperamento, espírito”. Humor, em todos os sentidos, é algo que flui, envolvendo características básicas do indivíduo que se expressam no corpo, em temperamentos e reações emocionais, e em maneiras de sentir, pensar, e de espírito. As qualidades de humor e espírito são similares, e interdependentes Ou, como Sócrates resumiu: “Da mesma forma que não se cuida dos olhos sem se cuidar da cabeça, da cabeça sem se cuidar do corpo, não se cuida do corpo sem se cuidar da alma”.
* Rimos porque nos sentimos aliviados. Freud e Bérgson, cada um à sua maneira, indicaram a importância. MOODY Jr. (1978, p.133) citando Freud, que diz: Assim como a sagacidade e o engraçado, o humorismo possui em si um elemento liberador. Porém, também possui algo sutil e animador, que falta nas duas outras formas de extrair prazer de uma atividade intelectual. Sem dúvida, o que há de sutil nele é o triunfo do narcisismo, afirmativa vitoriosa do ego sobre a sua própria invulnerabilidade. Recusa-se a ser ferido pelas flechas da realidade ou ser compelido a sofrer. Insiste em ficar imune aos ferimentos do mundo exterior, na verdade, que estes são apenas oportunidades para alcançar o prazer. Este último traço é uma característica fundamental do riso. Para Bérgson,
O riso é o resultado da súbita transformação de uma expectativa tensa em nada. Nos circos, nos intervalos entre os números arriscados de domadores e trapézios, recorre-se aos palhaços para aliviar a tensão da platéia. E na origem dos palhaços, dos seus antepassados, os bufões e os bobos da corte, encontramos os fundamentos da caricatura e do humor gráfico.
* O riso foi desde o ínicio entendido como a resultante direta dos baixos instintos. Platão desconsiderou a comédia na sua República e Aristóteles deduziu que era produzido abaixo do diafragma, em meio aos calores excrementícios. E por isso mesmo, condenável na maior parte de suas manifestações. Era sempre associado à zombaria, ao sarcasmo e ao deboche. Para os cristãos, uma invenção do diabo. Apesar de registros de ocorrências cômicas na Igreja, o riso era desestimulado como uma facilitação ao pecado e ao prazer. Nas cortes, utilizavam as deformações e os anões para induzirem o riso dos nobres. Os anões se transformavam em bobos da corte. Produziam um efeito cômico imediato, pois nisto reside à maneira mais simples de explicarmos o riso. Entre a figura austera e padronizada do rei e a do bobo (a sua réplica reduzida, fora do padrão) produz-se a justaposição e a comparação, cujo efeito é o riso.
Nas últimas luzes do Renascimento, no século XVII, o riso escapa da censura da Igreja através do desenho dos irmãos Carracci, e nasce a caricatura, ou o ritrati carichi, o retrato carregado. Pelo mesmo mecanismo do bobo da corte, eles modificam a figura humana para torná-la idêntica a um anão, e com isso, atingir o cômico. Nascia assim uma nova expressão da arte visual que, impulsionada pelo desenvolvimento da Imprensa, da litografia e outros meios de reprodução, atingiria rapidamente o gosto popular, tornando-se em duzentos anos um dos principais registros da cultura de uma época. Até hoje.
www.formaturasdoguz.blogspot.com
Como está expresso na proposta que se segue, envio-lhe a arte final em arquivo que pode ser impresso nas dimensões que encomendar. No banner do casal, em anexo, as dimensões foram : H = 120 cm e L = 90 cm.Para atualizá-la, envio-lhe nos anexos os trabalhos que andei fazendo nos últimos tempos.São também encomendas via internet, através de fotos, com as cores em photoshop.Em eventos, utilizo nanquim e aquarela para colorir.Para as 35 em consulta, favor informar-me o prazo máximo que terei para enviar-lhe.
Caricaturas do Guz:
não faça o seu evento sem elas!
* 1) Caricaturas em eventos:
* esta é uma das modalidades do meu trabalho, quando as caricaturas são elaboradas durante um evento...
Para eventos, o custo de atuação é de R$ 100,00 / hora (cem reais por hora), com o mínimo de tres horas.O valor é líquido, principalmente uando for necessário recibo que, na legislação vigente, é o RPA ( Recibo de pagamento de autônomo).Para eventos situados fora de Belo Horizonte devem ser incluidos os custos de transporte e hospedagem , se necessários. Todo o material utilizado por mim está incluso no preço acima: papéis, envelopes, canetas, lápis, etc. Os desenhos são tracejados em nanquim e coloridos em aquarela.
*
2) Caricaturas delivery by web
Encomendas de caricaturas via internet, através de fotos,
veja nos links abaixo o meu portfólio.
* Caricaturas de grupos : R$50,00 (cinquenta reais) por modelo.
* Individuais: R$ 90,00 ( noventa reais)
* Casais: R$ 120,00 ( cento e vinte reais)
* Enviar fotos frontais e recentes, se possível, sem sombras. Características pessoais sempre ajudam. Farei o esboço e enviarei para aprovação.
* Após o que, será feito o depósito em minha conta corrente.
* Posso enviar os arquivos (JPEG, com fundo, e PNG, sem fundo) por e-mail, para impressão em gráfica ou copiadora.
*
Obrigaço
(obrigado e um abraço)
do
Guz
Paulo Cangussu
www.guz.com.br
www.blogdecaricaturas.blogspot.com
www.caricaturasdelivery.blogspot.com
www.eventoscomcaricaturas.blogspot.com
www.caricaturasparaemmpresas.blogspot.com
www.contrateoguz.blogspot.com
www.caricaturasdoguz.blogspot.com
www.taxofilo.blogspot.com
www.humortrainner.blogspot.com
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( No Portal do Luiz Nassif)
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(a Rádio Guz FM, com as preferidas)
www.youtube.com/guzcartunista
http://twitter.com/guzcartunista
(31)99299882
Skype= guz2008
Trabalhando e rindo
(Algumas formas de criatividade, não menos importantes, são ao mesmo tempo imateriais e transitórias. Uma das mais importantes é a capacidade de provocar o riso nas pessoas. Vivemos em um vale de lágrimas, que começa com o choro do bebê e não se torna menos triste à medida que envelhecemos. O humor que eleva os nossos espiritos é um dos mais valiosos alívios humanos, e o dom de provocar riso é raro e valioso.
Paul Johnson, Os criadores - Ed. Campus)
Porque as empresas também não deveriam ter uma (sala de recreio), pelo menos? Porque nós sempre falamos: oi, benzinho, hoje à noite vamos ver uma comédia para rirmos e relaxarmos um pouco?(Não estamos falando de programas políticos) E nunca dizemos: oi, bem, estou indo para a empresa para me divertir um pouco... Porque lá é um lugar de gente séria, gente que não brinca em serviço. Nunca! Imaginem se eu, um operador de ponte rolante, fica rindo no serviço. Qualquer coisa, pimba. A carga caindo na cabeça de alguém. A atenção é fundamental, não há dúvida, e para tudo tem há sua hora. Mas ninguém pode ficar tenso durante um turno inteiro. Disso advirá o estresse, o colapso, e todos nós sabemos os acidentes. O riso é fundamental para a nossa existência porque está ligado à nossa emoção. Dentre as funções da expressão emocional, o riso vem em primeiro lugar, pois, segundo Darwin, estudado por Asch (1977), os movimentos faciais a que denominamos expressivos eram, originariamente, parte de atividades práticas. Mostrar os dentes fazia parte da preparação para o ataque.
Quais são os últimos anúncios de TV que lembramos dos últimos seis meses? Dos engraçados, dos que os trazem o riso, a descontração.
Para falarmos do riso e sua história, levaríamos muito mais tempo do que dispomos hoje. Desde a interpretação de Darwin, que afirmou que o riso atual é a evolução de uma expressão facial de ataque até a expressão emocional que temos hoje, até às ultimas descobertas dos efeitos do riso em nosso metabolismo .Sabe-se hoje que ele é fator importante para a secreção de enzimas que protegem o estômago, que ajuda no aumento de anticorpos naturais do organismo que combatem infecções respiratórias. O riso também ajuda no transporte de nutrientes e oxigênio para os tecidos corporais, liberando também endorfinas que atuam como analgésico natural.
O riso provoca a liberação de um neurotransmissor chamado serotonina, que agiliza a comunicação entre os neurônios. Se, ao contrário, o organismo se encontra submetido ao estresse ou está sobrecarregado de tensão, os circuitos neurais acusam a falta de serotonina, alterando assim a comunicação entre estes e, consequentemente, provoca o desequilíbrio do organismo afetando, portanto, o processo cognitivo.
O riso é um grande facilitador do aprendizado. Nérici (1973, p.14) afirma que: "A educação tem de se inspirar na Filosofia devido à convicção de que o homem não pode ser tratado como objeto, mas como algo excepcional que se revela pela sua criatividade, sua tendência para a liberdade, sua capacidade de auto-limitar-se e de aspirar, bem como a sua inquietação interior, que o impele para o transcendental". Precisamos muitas vezes articular um pequeno mas sincero sorriso a fim de nos aproximarmos de alguém e isto também se dá no processo ensino-aprendizagem. Fazemos nossas as palavras de Grisi (1985, p. 11) quando diz: "O regime de disciplina férrea não cria caracteres viris, antes pode formar indivíduos subservientes ou amargurados.”.
O humor e o seu efeito, o riso, atuam como antídotos à desconfiança e ao stress .Herbert Lefcourt um eminente psicólogo da Universidade de Waterloo, no Canadá, estudou a hipótese de que o senso de humor, e o seu uso, podem alterar a nossa resposta ao stress. Na sua pesquisa, pessoas foram consultadas sobre a freqüência e a severidade de mudanças estressantes ocorridas com elas nos últimos seis meses, e os seus recentes distúrbios de temperamentos eram avaliados. Lefcourt aplicou testes de avaliação de humor, percepção de humor, riso, e esforços de inclusão de humor e riso nas formas de vida de cada um. Resultados da pesquisa mostraram que a habilidade de incluir a prática e o senso de humor podem alterar positivamente as perturbações de estados de espírito resultantes de eventos negativos. Não fumar, manter uma alimentação equilibrada e praticar exercícios físicos, já está provado, são medidas que fazem viver mais e melhor.
Agora, a medicina estuda a importância do bom humor e dos sentimentos positivos na prevenção de determinadas doenças e até mesmo como fator de recuperação de pessoas vitimadas por moléstias graves. O surradíssimo ditado "rir é o melhor remédio" começa, enfim, a ganhar respaldo científico. Pesquisas recentes comprovam que boas risadas (nada a ver com aquelas que somos obrigados a dar quando o chefe conta uma piada sem graça) podem ter o efeito de uma sessão de ginástica. Protegem o coração, aliviam o stress, fortalecem o sistema imunológico, facilitam a digestão e limpam os pulmões (veja quadro).
A risada é o principal objeto da maioria desses estudos, por se tratar da expressão mais explícita do bom humor e da positividade. Sua interferência no funcionamento do corpo é, portanto, mais fácil de ser medida. "Quando rimos, rimos com o corpo todo", define o psiquiatra americano William Fry, da Universidade Stanford, especialista no assunto. Um dos seus maiores efeitos é reduzir a liberação dos hormônios associados ao stress, o cortisol e a adrenalina. Em excesso, essas substâncias enfraquecem as defesas do organismo e elevam a pressão arterial, criando o cenário para o desenvolvimento de infecções e para um infarto.
Um estudo revelador sobre os benefícios do bom humor para a saúde do coração foi conduzido pelo patologista Lee Berk, diretor do Centro de Neuroimunologia da Universidade de Loma Linda, na Califórnia. A equipe do doutor Berk acompanhou durante um ano 100 homens que já haviam enfartado, monitorando diariamente a pressão arterial, as taxas de adrenalina e as doses de medicamentos de cada paciente. Eles foram divididos em dois grupos, dos quais um era obrigado a assistir meia hora por dia a uma comédia televisiva. O resultado foi surpreendente: os que foram submetidos às sessões de risada sofreram menos episódios de arritmia, apresentaram redução na pressão arterial e tiveram de tomar menos remédios contra angina. A recorrência de infarto no grupo dos risonhos foi de 8%. No outro, de 42%.
* O humor nos permite mudar a perspectiva de nossos problemas, e com o afastamento, nos permitimos sentir autoprotegidos, com o ambiente à nossa volta sob controle. Freud anotou a poderosa influência psicológica do estado de humor: Como o espirituoso e o cômico, o humor tem um elemento de libertação. É o triunfo do narcisismo, a assertiva vitoriosa do ego de sua própria invulnerabilidade,”(Chistes, 1905). Quando optamos por rir de ou sobre uma determinada situação, nós passamos a nós mesmos a mensagem sutil: ”Veja, Isto não é tão ameaçador. É risível e absurdo de certa maneira. “Não posso levar tão a sério.”
* A palavra humor tem muitos significados. “A raiz de onde advém é “umor”“, significando líquido, fluido. Na Idade Média e Renascença, humor era um dos quatro fluidos básicos do corpo que determinavam o temperamento e saúde humanos (sangüíneo, fleumático, colérico, melancólico). Um dicionário define humor como “a qualidade de ser risível ou cômico” ou “estado da mente, temperamento, espírito”. Humor, em todos os sentidos, é algo que flui, envolvendo características básicas do indivíduo que se expressam no corpo, em temperamentos e reações emocionais, e em maneiras de sentir, pensar, e de espírito. As qualidades de humor e espírito são similares, e interdependentes Ou, como Sócrates resumiu: “Da mesma forma que não se cuida dos olhos sem se cuidar da cabeça, da cabeça sem se cuidar do corpo, não se cuida do corpo sem se cuidar da alma”.
* Rimos porque nos sentimos aliviados. Freud e Bérgson, cada um à sua maneira, indicaram a importância. MOODY Jr. (1978, p.133) citando Freud, que diz: Assim como a sagacidade e o engraçado, o humorismo possui em si um elemento liberador. Porém, também possui algo sutil e animador, que falta nas duas outras formas de extrair prazer de uma atividade intelectual. Sem dúvida, o que há de sutil nele é o triunfo do narcisismo, afirmativa vitoriosa do ego sobre a sua própria invulnerabilidade. Recusa-se a ser ferido pelas flechas da realidade ou ser compelido a sofrer. Insiste em ficar imune aos ferimentos do mundo exterior, na verdade, que estes são apenas oportunidades para alcançar o prazer. Este último traço é uma característica fundamental do riso. Para Bérgson,
O riso é o resultado da súbita transformação de uma expectativa tensa em nada. Nos circos, nos intervalos entre os números arriscados de domadores e trapézios, recorre-se aos palhaços para aliviar a tensão da platéia. E na origem dos palhaços, dos seus antepassados, os bufões e os bobos da corte, encontramos os fundamentos da caricatura e do humor gráfico.
* O riso foi desde o ínicio entendido como a resultante direta dos baixos instintos. Platão desconsiderou a comédia na sua República e Aristóteles deduziu que era produzido abaixo do diafragma, em meio aos calores excrementícios. E por isso mesmo, condenável na maior parte de suas manifestações. Era sempre associado à zombaria, ao sarcasmo e ao deboche. Para os cristãos, uma invenção do diabo. Apesar de registros de ocorrências cômicas na Igreja, o riso era desestimulado como uma facilitação ao pecado e ao prazer. Nas cortes, utilizavam as deformações e os anões para induzirem o riso dos nobres. Os anões se transformavam em bobos da corte. Produziam um efeito cômico imediato, pois nisto reside à maneira mais simples de explicarmos o riso. Entre a figura austera e padronizada do rei e a do bobo (a sua réplica reduzida, fora do padrão) produz-se a justaposição e a comparação, cujo efeito é o riso.
Nas últimas luzes do Renascimento, no século XVII, o riso escapa da censura da Igreja através do desenho dos irmãos Carracci, e nasce a caricatura, ou o ritrati carichi, o retrato carregado. Pelo mesmo mecanismo do bobo da corte, eles modificam a figura humana para torná-la idêntica a um anão, e com isso, atingir o cômico. Nascia assim uma nova expressão da arte visual que, impulsionada pelo desenvolvimento da Imprensa, da litografia e outros meios de reprodução, atingiria rapidamente o gosto popular, tornando-se em duzentos anos um dos principais registros da cultura de uma época. Até hoje.
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