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quarta-feira, 18 de maio de 2011

Dona Elza, miha mãe, encantada & eterna


Minha última postagem neste blog ocorreu em 30 de janeiro, e sómente hoje retorno, passados cem dias após a notícia amarga que tive que divulgar no dia seguinte.um 31 de jaeiro que ficará indelével como um dos meus mais tristes dias.
Dona Elza, mãe querida, extremada, costureira de apurada técnica , cozinheira de saborosos e simples iguarias, cartomante de destinos sempre felizes, avó e bisavó de Liz, Juju, Camila, Cris, que continuam a sua aventura humana, encantou-se para sempre naquela triste tarde.
Restamo-nos, vencendo a ausência. Na nossa amizade, no nosso carinho, compartilhemos cada vez mais. Devota de São Judas Tadeu, com quem afirmava ter uma ótima interlocução com seus pedidos às esferas superiores, Dona Elza era de pouca missa e muita fé. Para lembrá-la, no entanto,nada melhor do que dedicar-lhe uma de minhas poesias mais queridas...

Ela não é uma
falha médica,
é o último ato da vida.
(Patch Adams,
no livro O Amor é contagioso,
sobre a morte)

SE EU MORRER
Pablo Neruda

Se eu morrer, sobrevive a mim com tamanha força
que acordarás as fúrias do pálido e do frio,
de sul a sul, ergue teus olhos indeléveis,
de sol a sol sonha através de tua boca cantante.
Não quero que tua risada ou teus passos hesitem.
Não quero que minha herança de alegria morra.
Não me chames. Estou ausente.
Vive em minha ausência como em uma casa.
A ausência é uma casa tão rápida
que dentro passarás pelas paredes
e pendurarás quadros no ar.
A ausência é uma casa tão transparente
que eu, morto, te verei, vivendo,
e se sofreres, meu amor, eu morrerei novamente.

Reuno a seguir algumas das inúmeras manifestações que recebí, e que me confortam até hoje...

Querido amigo: o sentimento que me ocorreu mais de imediato foi de que ela partiu num ótimo momento de sua vida, tão custosa, tão heróica. De seu último contato com ela, Eleusa relatou-me, entre surpresa e feliz, que d. Elza fizera elogios e manifestara gratidão pelos dias fque estava então vivendo, naquela morada. Que bom!
Paulo: você realmente se empenhou em entendê-la, acudí-la, usar seu humor para ver o lado engraçado de suas posições e, assim, fortalecer sua admiração por ela. Que ser marcante, que invulgar personagem de
romance para um Erico Versíssimo! Uma força da natureza, um ser digno de ser chamado humano, com todos os paradoxos que o caracterizam.Pode ter certeza: todos os seus amigos e todas as pessoas a quem ela acudiu e tocou receberam-na no outro nível, com alegria, e à frente estavam Nair e Alberto.
Muita força e muita paz. Descanse de uma missão bem cumprida. Abraços,Salomão e Eleusa.

Prezado Paulo e Silvio
Dona Elza Sarmento Cangussu foi uma pessoa admiravelmente forte, brava, persistente, resiliente perante todas as dificuldades. O dia que passou aqui em casa foi inesquecível. Comemos e conversamos ela se abriu, falou da criação, do Norte de Minas, das idéias que tinha. Guardarei dela uma boa recordação. E, por acaso, ela me influenciou ao pedir que seu rosto não ficasse exposto no velório. Por vaidade? Achei de grande sabedoria e decidi que, se um dia, porventura, eu vier a morrer, meu rosto não será exposto a ninguém, se é que alguém vai lembrar-se, será do meu rosto vivo. Nem quero flores, pois odeio que o cheiro perfumado de outros momentos alegres se confunda com a carniça da decomposição do nosso corpo, fenômeno natural e necessário, mas horrível de aceitar socialmente. Abraço, vamos tocando a vida e deixando que os afoitos furem a fila e sigam na frente. Abraço, Apolo Heringer


O Menino e sua Mãe ao Colo

Descansa no meu colo
tua cabeça de mulher.
Deixa que eu seja teu pai,
ainda que por m instante.
Vivamos o parto às avessas.
Eu, que sou teu filho,
por ora quero ser teu pai.
Só para ter o prazer de
te ver menina tão cheia de sonhos.
Só para puxar os teus cabelos
e nele colocar laços bordados de alegrias.
Cores de tempos antigos, distantes,
quando nem imaginavas
que um dia eu seria teu filho.
Fica quietinha por aqui.
Permita que eu cuide de tua coisas,
teu guarda-roupas tão cheio de dsordens,
não importa.
O remédio eu te darei,
teu alimento eu plantarei, e ajeitarei
o teu travesseiro de um jeito que gostes.
Só para descobrir a alegria
de reverter os poderes do tempo,
inverter a ordem dos fatos.
Só para ter a graça de te chamar de
minha filha,
minha menina,
minha Aninha(Elzinha).
Só para ter a graça de evitar teus
choros futuros,
tuas dores constantes,
teus medos tão delicados.
Medo de me perder,
de que eu morra antes da hora,
e de que não estejas por perto no
momento em que eu precisar de
tua mão, como no passado,
quando me conduzias contigo,
como se fossemos um só,
amarrado e costurado
no amor que sobrava do teu peito.
Amor que Deus esqueceu no mundo
e que eu vi de perto,
quando o sofrimento entrou pela janela
de tua casa,
e mesmo vendo partir as carnes do teu ventre,
o teu olhar me encorajava a não desanimar da vida.
E juntos, seguimos atados pela estrada,
que é feita de sonhos,
de tristezas e de risos.

Padre Fábio de Melo

Paulo,
Que Deus o abençoe! Um beijo,
Sula

domingo, 30 de janeiro de 2011

Nasce uma advogada: Beth Campos



Mil oitocentos e vinte e cinco dias que fizeram a diferença.
Depois do trabalho diário na PBH,
driblando o trânsito e suas conjunturas de perigo,
desafiando as estatísticas em vermelho em sua moto,
valente, resiliente, como se dançasse uma sevilhana,
o Brasil ganha uma advogada
que tem o ritmo da coragem:
Helyzabeth Kelen Tavares Campos.

TV O TEMPO:Quadrinista mineiro GUZ fala sobre a paixão pelos desenhos

Assistam ao locutor que vos fala, em recente (25.01.2011) entrevista à TV O TEMPO, no Dia Nacional dos Quadrinhos.Na verdade, sempre fui mais cartunista do que quadrinista. Mas foi com os quadrinhos que tudo começou: foi neles que descobrí o mundo fabuloso da criação e do humor!




quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Porque não conhecí a presidente Dilma nos anos de chumbo ou Anos de chumbo: Ex-companheiros de Dilma relembram tristes momentos na VAR Palmares ( O Gl



No período 1965-1966, tornei-me 1º Vice-presidente da UEE-MG, um importante centro de resistência estudantil contra a ditadura,onde conviví quase diáriamente com dois dos citados anteriormente pela presidente Dilma como "aqueles que tombaram" . Para aqueles que perceberam, Dilma Roussef emocionou-se nas duas vezes em que citou esta expressão, tanto na posse no Congresso Nacional como no discurso no Parlatório. Relembro também dos meus momentos vividos numa época em que se exigia dos jovens muito mais do que eles poderiam fazer...
Um dos principais desaparecidos pela repressão e tortura foi Beto, Carlos Alberto de Freitas,codinome Breno, teórico da POLOP (Política Operária), que evoluiria para o grupo de resistência armada COLINA (Comando de Libertação Nacional), posteriormente alterada para VAR-Palmares.

Apesar de se inclinar para a linha maoista, Beto envergava a maior parte do tempo um vasto bigode a la Stalin, mas gostava de deixar expressa a sua opinião desconfiada sobre os propósitos do PCB, o Partidão, cujos quadros eu bissextamente integrava, o que parecia aos meus olhos uma barreira interposta por ele para uma amizade mais próxima.Olhos verdes, simpático, sorridente, sedutor nos seus argumentos e articulações, eu via-o sempre cercado de devotadas seguidoras, entre as quais se destacava, para nosso desgosto do PCB, a companheira teuto-brasileira Helga,entre outras musas da minha juventude.

Mas de todas as belas, Maria Auxiliadora Lara Barcelos, a Dodora, estudante de medicina ( que não frequentava a UEE) era definitivamente quem impulsionava minhas pulsações.Com ela, eu tinha o privilégio de conviver todas as tardes no DER-MG (Departamento de Estradas de Rodagem), embora à distância, pois nunca nos falamos, como amanuenses-estudantes. Eu trabalhava na seção de Arquivo e Protocolo , localizada junto ao relógio de Ponto, e Dodora era irmã de Maria Helena, uma de minhas colegas, e por lá obrigatóriamente passava, após carimbar os cartões de cartolina. Alta, os olhos verdes contrastando com o escuro dos cabelos, um sorriso lindo e calmo, eu admirava-a sem saber que estava tão envolvida na Polop quanto os companheiros da UEE. Ângelo Pezzuti, seu colega de medicina, que sempre aparecia nas madrugadas de pixações, tornou-se o líder da facção armada no ano seguinte, também para minha surpresa, pois imaginava-o pouco engajado, numa militância muito bem disfarçada.

Não conhecí Dilma Roussef, que apenas em 1967 seria cooptada pelo grupo no Colégio Estadual. Nosso líder no PCB, o radicalíssimo Xuxu, Mário Roberto Zanconato, da mesma turma de medicina, propôs e optou por dissentir da linha oficial, integrando pela luta armada a CORRENTE,para a qual fui insistentemente convidado. Mas nessa época eu estava me interessando cada vez mais pelo desenho de humor, pelas charges que desenhava para o DX, nosso jornal acadêmico da Escola de Engenharia. À minha opção por esta arte singular devo o meu desengajamento progressivo, assim como a sobrevida até hoje, o que possívelmente terá também ajudado à sobrevivência de alguns companheiros de luta, pois a minha miopia ( e completa inabilidade manual ) era a última coisa que combinava com armas, pontarias e " expropriações" aventurosas.

No artigo de hoje, O Globo aborda o destino de Beto, cuja morte teria ocorrido na Casa da Morte, um centro de torturas em Petrópolis, onde as vítimas eram posteriormente esquartejadas (com ele foi preso e morto o advogado Antônio Joaquim Machado, o Quincas,de Pompéu/MG, cujo desaparecimento é práticamente ignorado pela mídia), e Dodora, que suicidou-se em 1976 no metrô de Berlim, aonde se asilara depois de presa no Rio ,e terrivelmente torturada, de onde foi libertada em troca do fim do sequestro do embaixador suiço.Ângelo Pezutti também foi libertado da mesma forma, falecendo num desastre de moto em Paris, em 1976. O médico Mário Roberto foi trocado na primeira leva de sequestros, o do embaixador Elbrick,clinicou 25 anos em Cuba, mas o socialismo de Fidel tem limites até mesmo para os que veneravam-no, transferindo-se finalmente para São Paulo ou Santos.

Outros nomes heróicos integram a lista de minha convivência,todos mortos sob tortura, como Honestino Guimarães, que conhecí calouro de geologia da UNB, em 1966, ex-presidente da UNE, assassinado em 1973;José Júlio de Araújo, o Jota, no DOI-CODI/São Paulo, em 1972,na época da UEE meu parceiro de pesquisas sobre a densidade feminina no Edificio Maletta; e José Carlos da Mata Machado, advogado, também assassinado no DOI-CODI, em 1973, quando tentava escapar do país que o perseguia, denunciado pelo próprio e ensandecido cunhado.E, à parte, Mário Alves,paraibano, jornalista e líder dissidente do PCB, fundador do PCBR, assassinado em 1970, no Rio, que nos visitava em casa, até 1967.

Anos de chumbo
Ex-companheiros de Dilma relembram tristes momentos na VAR Palmares

Publicada em 08/01/2011 às 18h23m
Chico Otavio
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RIO - Em fevereiro, fará 40 anos que Carlos Alberto Soares de Freitas, antes de descer do ônibus na esquina da Avenida Nossa Senhora de Copacabana com Princesa Isabel, no Rio, acenou pela última vez para Sérgio Emanuel Campos. Desde então, não foi mais visto. Sua mãe, Alice, até morrer, manteve intacto o quarto do filho, dizendo que ele ficara com a chave da porta e poderia reaparecer a qualquer momento. ( Assista a trecho de documentário que relata violência na ditadura )

Reinaldo Guarany também se lembra do derradeiro aceno de Maria Auxiliadora Lara Barcelos. Foi da portaria do prédio onde moravam, na então Berlim Ocidental, na primavera de 1976. Da rua, ela gritou para que o namorado fosse à janela do quartinho se despedir, coisa que jamais fizera antes no exílio. Pouco depois, a caminho da universidade, se jogou na frente de um trem do metrô da cidade. (Leia também: Governo Dilma quer aprovação da Comissão da Verdade para identificar torturadores )

Nos anos sangrentos da guerra suja no Brasil, Carlos Alberto, o Beto, e Maria Auxiliadora, a Dodora, eram a mais completa tradução do "endurecer sem perder a ternura". Belos e idealistas, encarnaram a figura do guerrilheiro romântico sob a insígnia da VAR Palmares. Apesar da diferença de idade (ele era de 1939 e ela, de 1945), tinham muitos pontos em comum. Um deles sobreviveu ao tempo: a capacidade de emocionar, com a história de suas vidas, a ex-companheira e hoje presidente da República, Dilma Rousseff.

E é Dilma quem agora, com a força do cargo, poderá virar a chave da tranca que guarda os segredos do martírio de Beto, Dodora e outros nos porões do regime. Quando assumiu a candidatura, em fevereiro passado, a então ministra lembrou de ambos, que se foram "na flor da idade", assim como Iara Yavelberg, ex-companheira do capitão Carlos Lamarca - "Beto, você ia adorar estar aqui conosco", "Dodora, você está aqui, no meu coração. Mas também aqui com cada um de nós", recordou-se, emocionada, em discurso na convenção do PT.

Seis dias antes da convenção, num momento mais ameno daquele fevereiro, Dilma esteve na Passarela do Samba, onde assistiu aos desfiles do Grupo Especial. A festa tem entre seus chefões o ex-capitão do Exército Ailton Guimarães Jorge, o Capitão Guimarães, citado em depoimento de Dodora à Justiça Militar como um dos autores das violências contra ela e dois outros companheiros.

Embora Maria Auxiliadora seja nome de unidade de saúde em São Paulo, e militantes da luta armada tenham batizado os filhos como Breno, homenagem ao codinome de Carlos Alberto na clandestinidade, os dois guerrilheiros, mineiros como Dilma, não fazem parte da lista dos adversários mais famosos do regime que tombaram nos confrontos, como Carlos Lamarca, Carlos Marighella e Mario Alves.

O professor universitário Sérgio Campos, último a ver Beto, decidiu investir metade da indenização de R$ 100 mil que recebeu do governo, como vítima do regime, no resgate da memória do "comandante Breno". Para isso, convidou a jornalista carioca Cristina Chacel para produzir um livro sobre o personagem, a ser lançado ainda este ano.