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terça-feira, 5 de maio de 2009

Ainda o caso Sean: Psicólogo explica os efeitos da alienação parental na criança


Enviado por Eduardo de Oliveira
( do blog http://oglobo.globo.com/blogs/brasilcomz)
30.4.2009

Psicólogo explica os efeitos da alienação parental na criança

No debate sobre o caso Goldman se fala em “pensar no bem estar do
menino.” Trata-se essencialmente do estado emocional de Sean Goldman.
A herança psicológica que o menino americano vai levar desse moroso
processo judicial também deve interessar a todos que o amam.

Foi para falar dos efeitos psicológicos que uma alienção parental
causa que resolvi entrevistar o psicólogo João David Cavallazzi
Mendonça.

Formado pela Universidade Federal de Santa Catarina, Mendonça é
especialista em Psicologia Clínica e Professor e Supervisor Clínico no
curso de Especialização em Terapia Familiar no Familiare Instituto
Sistêmico, de Florianópolis.

O psicólogo não foi convidado para falar exclusivamente do caso
Goldman (vejam que ele até cita a ética). No entanto, é papel do
jornalista chegar até a fronteira do aceitável para buscar a verdade.

O tema é fascinante e merece o espaço dedicado neste blog. Mendonça
cobre vários campos cruciais no embate familiar, das inseguranças do
filho, até o papel do pai-vítima e a função dos alienadores no
processo pós-alienação da criança.

Diz Joseph Califano, professor da Universidade Columbia: "Não estamos
fazendo a apologia do casamento, mas quando decide ter um filho, o
homem precisa ter consciência de que este sim é um compromisso
indissolúvel.” O senhor está de acordo? Por quê?

Concordo, especialmente quando o autor refere-se à paternidade como um
compromisso indissolúvel. Gosto do termo “compromisso” porque me
remete à idéia de que a presença do pai na vida da criança é tão
importante quanto à presença da mãe. A cada dia surgem novos estudos e
pesquisas que revelam a importância da presença paterna e sua
influência positiva no desenvolvimento psicossocial das crianças, até
mesmo como meio de prevenção contra o envolvimento em situações de
drogadição e violência.

Estudos de psicologia mostram que na faixa etária entre 0 a 4 anos, a
criança começa a se identificar com a figura materna, se menina, e com
a figura paterna, se menino. Nesta fase do desenvolvimento emocional e
cognitivo, quais os riscos das sequelas de um divórcio?

Nenhuma criança deseja, a priori, a separação de seus pais, e
geralmente esta é uma situação de muito sofrimento para ela. No
entanto, os efeitos do divórcio sobre a criança dependerão muito das
circunstâncias em que se dá esta separação. Se o divórcio é feito de
uma maneira em que há respeito mútuo entre os pais, o desenvolvimento
psicológico da criança não estará necessariamente prejudicado. Se ela
percebe que apesar das dificuldades inerentes a um processo de
separação, há um clima de cooperação e convivência mínima, será mais
fácil para a criança assimilar e elaborar a nova configuração
familiar. Por outro lado, o que se constata é que quanto mais grave e
intensa for a batalha entre os ex-cônjuges, incluindo aí a proibição
de visitas, maior o sofrimento psíquico dos filhos envolvidos. Neste
caso, as crianças podem vir a desenvolver sintomas os mais variados
como uma resposta emocional ao seu sofrimento. Podem apresentar
sintomas de depressão, alterações no comportamento, diminuição do
rendimento escolar, ansiedade de separação, ou podem ainda desenvolver
fobias ou retraimento social.

Em quanto tempo depois do afastamento do outro genitor, a criança
começa a dar os primeiros sinais de depressão?

Não há um período propriamente determinado, pois isto dependerá de
várias circunstâncias que envolvem o caso. Há condições internas e
externas que podem afetar o rumo das coisas. A presença de pessoas
significativas para a criança, que lhe ofereça amparo, afeto e
compreensão, pode servir como um fator de prevenção da depressão ou
outra conseqüência negativa advinda da separação. Mas é comum que após
algumas semanas sem o convívio com um dos genitores, especialmente
quando a espera pelo contato vai aumentando e o contato não ocorre,
algumas crianças passem a sentir uma saudade que se transforma em
tristeza, que por sua vez pode se constituir num quadro de depressão.

No caso da alienação parental, como a criança se sente tendo que
anular os momentos felizes que passou com os dois pais, e sendo
forçada a lembrar momentos tristes? Como a criança encara as novas
informações contadas pelo alienador sobre o pai alienado?

Com bastante confusão. Penso aqui em dois cenários. Um deles é a falta
de informações a respeito do genitor ausente, que pode gerar na
criança fantasias de ter sido abandonada ou rejeitada. No outro
cenário, característico da “alienação parental”, as informações
recebidas pela criança a respeito do genitor alienado são sempre de
desqualificação e críticas negativas, com vistas a denegrir a sua
imagem perante a criança. Eu considero ambos os cenários uma forma de
abuso psicológico contra a criança, cujas conseqüências podem incluir
até mesmo sérios distúrbios emocionais, transtornos de identidade e
drogadição. Na Terapia de Família, trabalhamos com um importante
conceito que pode se encaixar neste caso, que é o da “lealdade
invisível”. Mesmo que a criança inicialmente não concorde nem perceba
o genitor ausente sob a ótica do genitor alienador, ela passa a “ter
que acreditar” nas mesmas coisas devido ao seu vínculo e dependência
emocional com o genitor que está mais próximo. Ou seja, apesar de
gostar e sentir saudade do genitor alienado, a criança não pode deixar
transparecer tal sentimento, sob pena de decepcionar ou desagradar o
genitor com quem ela convive. É simplesmente uma situação
enlouquecedora para a criança.

De que forma pode-se ajudar os pais que sofrem com filhos separados de
seu convívio?

Ajudá-los, antes de tudo, a compreender que o filho separado pode
estar vivenciando um conflito de lealdade invisível, em que ele se
sente com o coração literalmente dividido, sem que consiga se dar
conta disso. É papel do adulto compreendê-lo. Considero também
importante que estes pais estejam disponíveis e sensíveis à
necessidade da criança, mesmo que à distância, e tentar pensar como
estes pais poderiam se fazer presentes de outras formas, enquanto a
presença física ainda não é possível ou é limitada. Seria possível
escrever cartas, enviar vídeos, comunicar-se pela internet, enfim,
tentar criar meios de participar de alguma forma da vida da criança.
E, claro, uma ajuda profissional para lidar com esta ausência poderia
ser muito benéfica também.

Porque o alienador não enxerga que ao separar o genitor do filho o
principal prejudicado é a criança?

Porque na maioria das vezes o alienador está tão cego pelo ódio e
rancor, por desejos de vingança, que toda esta perturbação emocional
não permite que ele esteja sensível às necessidades óbvias da criança
naquele momento, que é o de ter o direito de conviver com ambos os
pais. Também creio que o medo do alienador de perder o afeto de seu
filho para o “outro” também é um fator que impede que ele perceba o
sofrimento da criança, apesar de amá-la de fato.

Como deve ser o tratamento da criança depois que ela descobre que todo
aquele sentimento sobre o alienado era falso?

A criança pode vir a se sentir culpada por ter sido injusta com um dos
genitores, ou pode sentir-se aliviada ao perceber que este genitor não
era aquele monstro que estavam falando. Ou ainda, podem surgir
sentimentos de raiva contra o genitor alienador. Ou, o mais provável,
é que tudo isto apareça junto. Então, o tratamento deve abordar toda
esta gama de sentimentos, a culpa, a raiva, o alívio, e especialmente,
deve buscar ajudar a criança a reintegrar o genitor alienado em sua
história de vida, sem que ela precise, para isso, renunciar ao outro
genitor. É ajudá-la a construir e recontar a sua história, agora com
pai e mãe, mesmo que pai e mãe não sejam mais marido e mulher.

Qual conselho o senhor daria para pessoas que afastam os filhos dos pais?

Dar conselhos é sempre difícil, e não sei se as pessoas estão
dispostas a recebê-los. Mas creio que eu sugeriria a estas pessoas que
fizessem uma sincera revisão de vida, e buscassem honestamente um
divórcio emocional de seu ex-cônjuge, além do divórcio judicial.
Afinal, tenho muitas razões para acreditar que ex-cônjuges que ficam
eternamente lutando entre si estão mostrando que ainda não se
divorciaram de fato. O litígio é apenas uma maneira de continuarem
vinculados um ao outro.

No caso de um pai que recupera o direito de morar com o filho, como
esse pai poderia agir para auxiliar o filho neste momento difícil
(perda da mãe, mudança de residência)?

Reestruturar sua vida para dar toda segurança psicológica a essa
criança, buscar todos os recursos possíveis para que ela tenha meios
de lidar com estas mudanças, e especialmente, não reagir à ex-esposa
da mesma maneira com que ela possa ter agido com ele. Ou seja, não
privar a criança do contato e convívio com o outro genitor, nem com
sua família ampliada.

Como a família materna de Sean pode ajudar nesta transição se ele for
morar com o pai? E no caso da criança ficar no Brasil, como eles devem
agir para aproximar pai e filho?

Não conheço os detalhes jurídicos do processo do caso Sean, apenas
possuo as informações que acompanho através da mídia, especialmente
pela web, já que é sabido que a família materna vem tentando impedir a
divulgação do caso pela imprensa brasileira. Portanto, prefiro falar
em tese, para que eu não incorra em alguma injustiça. Eticamente, não
me sinto capacitado a fazer algum tipo de análise de uma família com a
qual não tive contato pessoal para entender melhor as circunstâncias
que cercam um caso tão complexo. Mas sinto-me à vontade para afirmar
que, seja quem for o portador da guarda de Sean, é fundamental que se
compreenda que “ter a guarda” da criança não é sinônimo de “ter a
posse” da criança, e que da mesma maneira, aquele que não detém a
guarda, não é apenas um coadjuvante, ou um personagem secundário na
história. Fique no Brasil, ou volte para casa, Sean precisará muito da
ajuda tanto do pai quanto da família materna, para que ele se
restabeleça deste pesadelo que ele vive desde os 4 anos, quando foi
abruptamente retirado do convívio com o pai. É difícil imaginar que
depois de um litígio como este, que tomou proporções internacionais,
as famílias envolvidas possam chegar a uma convivência pacífica, mas
eis aí a grande oportunidade para que eles demonstrem ao mundo o
quanto realmente amam Sean.

Será mesmo necessário ter psicólogos presentes quando o genitor visita
a criança? Isto não gera um certo desconforto – ou pode ser
considerado intimidação?

Sim, pode ser um meio de manter controle sobre a visita, mas em alguns
casos pode ser uma medida para salvaguardar a criança. Entretanto, não
tenho certeza se no caso em questão a presença do psicólogo é uma
decisão do juiz, baseada em algum risco concreto, ou apenas uma jogada
de marketing da família materna.

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